Quando uma doença imaginária pode ter causas reais? Quais os mecanismos pelos quais a mente cria sintomas físicos como expressão de seu sofrimento? A resposta está muito bem explicada no livro ´Isso é coisa da sua cabeça’ (Ed. BestSeller), da neurologista inglesa Suzanna O´Sullivan, recém lançado no País.Integrante da equipe do Hospital Nacional de Neurologia e Neurocirurgia, da Inglaterra, a médica é uma das poucas do mundo especializadas no atendimento de pacientes com doenças psicogênicas (causadas por razões psicológicas).

O livro de Suzanna é fascinante. Ao contar a história de muitos dos pacientes que atendeu ao longo da carreira, a neurologista desnuda de que maneira os mecanismos psíquicos de cada um podem dar origem a condições físicas que, em casos extremos, levam à destruição da vida. A neurologia é um dos campos da medicina nos quais esses casos costumam aparecer com frequência.

Na obra, está, por exemplo, o drama de Pauline, que durante anos sofreu com crises que a faziam convulsionar, o de Matthew, que acreditava de verdade que sofria de esclerose múltipla (doença neurodegenerativa), e de Shahina, cuja mão tinha ficado deformada. Por trás de todos eles, anos de um sofrimento real, nem sempre identificado pelo próprio paciente e em geral desprezado pelos médicos. A maioria não foi treinada para acolher e tratar essas pessoas. No máximo, o que se faz é encaminhá-las a um psiquiatra. Ao paciente – sim, ele é um paciente – resta um sentimento de vergonha e humilhação pelo menosprezo a sua dor. O que Suzanna ensina é que ela pode não aparecer em exames, mas ela está lá.