A herança maldita deixada pela gestão petista é gigantesca. Resumindo bem a coisa, o Brasil quebrou. O esforço para simplesmente não afundar terá de ser homérico. Estamos falando de um rombo fiscal primário em torno de R$ 140 bilhões em 2017, o que dá uns R$ 400 bilhões quando acrescido do pagamento de juros. E é o déficit nominal que conta, pois significa aumento no endividamento público, já em patamares assustadores.

O grande vilão são os gastos públicos, que crescem sistematicamente acima da inflação. Qualquer desejo de mudança passa por reformas estruturais e uma drástica queda nas despesas do governo perdulário. Será preciso enfrentar grupos organizados de interesses e cortar privilégios, se o País quiser voltar a crescer e gerar empregos. Ou isso, ou mais uma década perdida, no mínimo.

A equipe econômica de Temer parece ter noção da gravidade do quadro. O próprio presidente demonstra ciência de que a prioridade é essa, ao contrário de Dilma e sua equipe. Mas não basta saber o que deve ser feito; é preciso fazê-lo. E é aqui que mora o perigo: qualquer tentativa de reforma produzirá enorme grita do lado dos parasitas, que já espalham por aí o “Fora Temer”. Terá ele coragem de seguir adiante?

Até aqui não sabemos dizer. A excessiva cautela e até os preocupantes recuos poderiam ser parte de uma estratégia de sobrevivência no poder. Afinal, antes de tudo é preciso confirmar o afastamento de Dilma. Alguns acham que as eleições municipais também impedem uma abordagem mais agressiva de Temer, por medo da impopularidade. Mas eis o dilema: só alguém sem medo de ser “impopular” pode fazer o que deve ser feito.

Para piorar a situação, rumores de que Temer poderia ser candidato em 2018 serviram apenas para jogar lenha na fogueira. É tudo que o Brasil não precisa agora, como não precisa dessa conversa de eleição antecipada, instrumento inconstitucional almejado por uma esquerda que não sabe perder e não respeita as regras do jogo.

O que precisamos é de um presidente disposto a sacrificar sua popularidade imediata em prol das reformas necessárias, cortando na carne do próprio governo. Sua equipe sabe disso, mas terá coragem de seguir em frente? Henrique Meirelles, com pretensões políticas, poderá se mostrar tímido demais, e não descarta sequer aumento de impostos, o que a sociedade não aceita mais.

De Dilma para Temer há uma mudança substancial na área econômica, e o País respira aliviado. Mas é cedo demais para abandonar o pessimismo. Ele é, afinal, calcado em uma visão realista dos obstáculos à frente, e também nas demonstrações de Temer de que falta a determinação para declarar guerra aos privilégios do setor público. O que vimos até aqui é muito aquém do necessário.