O aumento de temperaturas impulsionado pelo aquecimento global está provocando tempestades cada vez mais intensas, que afetam cidades com inundações repentinas, mas deixam campos e terras agrícolas secos, segundo um estudo australiano.

Pesquisadores da Universidade de Nova Gales do Sul (UNSW) descobriram que, enquanto o clima mais quente provoca tempestades mais fortes, levando a inundações em áreas construídas, também reduz a umidade no solo, que então absorve rapidamente qualquer excesso e reduz o fluxo de água nos rios rurais.

“Desse modo, quando os grandes eventos de chuva (…) acontecem, uma maior proporção deles é armazenada no solo, então você tem uma menor proporção saindo como fluxos”, disse a professora de hidrologia da UNSW Ashish Sharma à AFP nesta terça-feira.

Os especialistas dizem que a diminuição dos cursos de água nas áreas agrícolas ameaça a agricultura e a segurança alimentar, exigindo atenção urgente em meio a um aumento previsto na população global de 23% nas próximas duas décadas.

Enquanto isso, eles apontam que a infraestrutura das cidades está lutando para lidar com os aguaceiros mais severos, com danos de inundações no valor de mais de US$ 50 bilhões em 2013 – um número que deverá dobrar nos próximos 20 anos.

“É um duplo golpe”, disse o autor principal do estudo, Conrad Wasko, da UNSW.

“As pessoas estão migrando cada vez mais para as cidades, onde as inundações estão piorando. Ao mesmo tempo, precisamos de fluxos adequados nas áreas rurais para sustentar a agricultura para abastecer essas populações urbanas em expansão”.

A extensa análise, publicada na sexta-feira na revista Nature Scientific Reports, é baseada em dados de cerca de 50.000 sites de monitoramento de chuvas e rios em 160 países.

Enquanto as inundações extremas estão causando fluxos de água cada vez maiores, as inundações cíclicas regulares estão tendo cada vez menos efeito sobre o lençol freático, disse Sharma.

Ele acrescentou que, embora o aumento da intensidade das tempestades variasse em todo o mundo, uma descoberta persistente na pesquisa é que mais chuva não se traduzia em mais água nos sistemas fluviais.

“Uma coisa que apareceu consistente foi que a mudança na precipitação era muito mais do que a mudança no fluxo”, acrescentou Sharma.

Os autores do artigo disseram que soluções de engenharia foram necessárias para se adaptar à mudança no meio ambiente.

“Em lugares como o Arizona, a Califórnia, a Holanda, ou o Snowy Mountains Scheme (sistema australiano de hidroeletricidade), essas coisas aconteceram por causa de engenheiros civis”, disse Sharma.

“Nós sentimos que a forma como o sistema natural estava funcionando não era consistente com o lugar em que queremos que a população esteja, assim, criamos um resultado (…) e estamos nos beneficiando de todo o trabalho feito há muitos anos”.