Diante da polêmica pelo burquíni na França, mulheres muçulmanas que adotam esse traje de banho de corpo inteiro oscilam entre a incompreensão com o absurdo debate e a fúria por serem – mais uma vez – estigmatizadas e dizem usá-lo como “mulheres livres”.

Wendy, de 22 anos, é estudante de Direito em Lille (norte). Muçulmana convertida, usa o véu há três anos. No verão passado, fez um burquíni com malha, saia de tênis e uma camiseta. Neste verão, comprou seu primeiro burquíni em um especializado.

“Uso o véu normal, não escondo meu rosto”, diz a estudante.

“Não vejo por que devo colocar um biquíni quando estou de férias, não é coerente”, disse essa jovem por telefone à AFP do Chipre, onde passa suas férias.

Para Wendy, o burquíni é simplesmente “prático”.

“Não sou a favor de ir para a água vestida. Estragaria minha roupa”, comentou, rindo.

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“Quero me banhar tranquilamente”, acrescenta, denunciando uma polêmica “ridícula” em torno do burquíni.

Depois dos atentados extremistas que inflamaram o debate sobre o Islã na França, uma nova polêmica surgiu sobre esse traje que cobre o corpo da mulher da cabeça aos tornozelos.

Em agosto, vários municípios da costa mediterrânea decretaram a proibição de usar burquíni nas praias.

Na quinta-feira (25), o Conselho de Estado francês, a mais alta jurisdição administrativa do país, examinará uma ação apresentada pela Liga de Direitos Humanos (LDH) contra os polêmicos decretos antiburquíni, segundo um comunicado publicado hoje (23).

Último recurso em matéria de justiça administrativa, o Conselho de Estado deve estabelecer a jurisprudência para o caso.

Na França, que conta com 5 milhões de muçulmanos, os burquínis são pouco usados. Uma minoria vai à praia coberta.

‘Barulho por nada’

Lamia, companheira de estudos de Wendy, cresceu em Dunkerque (norte), perto do mar. Ela lembra de sua mãe de saia preta na praia, quando era pequena.

“Sua roupa ficava molhada, e a areia grudava nela. O burquíni facilita a vida das muçulmanas que sempre se banharam vestidas”, completou.

Este ano, Lamia viajou de férias para Nice e Cannes (sul), onde se banhou de burquíni dias antes dos decretos de proibição.

“Eu era quase a única que usava. Vi dois, ou três, talvez. Ninguém se importava”, afirma, acrescentando que as reações se limitavam a um olhar de “surpresa”.


Assim como Wendy, Lamia está furiosa com a controvérsia – segundo ela “oportunista” -, que “cria barulho por nada”.

Lamia considera “absurdo” ver no burquíni um sinal de radicalização.

“Para os fundamentalistas, os extremistas, a praia é para os infiéis. Elas não vão se banhar cercadas de mulheres com os seios de fora em Cannes”, completa.

Quem usa burquíni, defendeu, são “mulheres livres de suas decisões” que apenas “desejam desfrutar das férias”, acrescenta.

A jovem sugere que o nome deveria ser modificado, já que “tem uma conotação pejorativa por causa da burca”, a veste que cobre totalmente o corpo da mulher.

Tatiana, vendedora em uma loja de moda islâmica em Paris, também desaprova o nome dessa roupa, da qual vende vários modelos coloridos há anos. Entre suas clientes, ela diz ter “muitas mães que querem brincar na água com os filhos”.

“Vende-se regularmente, sobretudo, antes das férias”, completa.

Além do burquíni, Tatiana e sua colega Sukayna relatam que, nas ruas, as agressões verbais sobre suas roupas crescem.

“Nós não criticamos a forma como os outros se vestem. É triste. Dizem para nós que esse não é nosso lugar”, lamenta Tatiana.


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