Na noite de domingo 14, no Estádio do Engenhão, mais de 60 mil pessoas gritaram ritmadamente o nome do mais famoso jamaicano vivo: “Bolt! Bolt! Bolt! Bolt!” Entre os presentes, havia a clara noção de que a história seria escrita nos pouco mais de nove segundos que se seguiriam ao disparo da pistola que marca o início da prova dos 100 m rasos do atletismo. A torcida brasileira, que nos Jogos Rio-2016 buscou sempre apoiar os azarões, desta vez clamava por Usain St. Leo Bolt, antecipando a consagração definitiva do homem mais veloz do mundo. E ela veio. Em 9s81, 23 centésimos acima do seu próprio recorde mundial, o jamaicano superou aquele que muitos apontavam como favorito, o americano Justin Gatlin, e conquistou o sétimo ouro da carreira – marca que seria ampliada para oito, com a vitória nos 200 m na quinta-feira 18, e poderia crescer para nove, com a provável conquista do revezamento 4 x 100 m.

FENôMENO Phelps vence os 200 m (acima) e especialistas advertem que jamais haverá outro como ele. Será?
FENÔMENO Phelps vence os 200 m (acima) e especialistas advertem que jamais haverá outro como ele. Será? (Crédito:Ronald Martinez/Getty Images; Phil Noble/REUTERS; Lucas Jackson/REUTERS)

MAIOR QUE RODES

Da mesma forma que garantiu o lugar de Bolt no rol de lendas do esporte mundial, a Olimpíada do Rio ajudou a consolidar o status de superestrelas de atletas das mais variadas modalidades e países. Esse talvez tenha sido o maior mérito dos primeiros Jogos realizados na América do Sul. O caso do nadador americano Michael Phelps é emblemático. Os cinco ouros e uma prata conquistados na capital carioca transformaram o fenômeno das piscinas no maior esportista de todos os tempos, superando inclusive os feitos de Leônidas de Rodes, herói dos Jogos da Antiguidade. “Jamais veremos outro Michael Phelps”, afirma o técnico do americano, Bob Bowman.

Da maneira como o esporte é disputado hoje em dia, não existem perspectivas de surgimento de outro ser humano capaz de conquistar 28 medalhas (25 ouros, 3 pratas e 2 bronzes), como Phelps. Cada vez mais, os atletas se especializam em determinadas provas. No caso da natação, que costuma distribuir mais de um prêmio para o mesmo atleta, há os velocistas, especialistas nos 50 m e nos 100 m, os fundistas, que nadam distâncias como os 1.500 m, e os maratonistas, que disputam competições em águas abertas em percursos de 10 km. E muitos deles priorizam um ou outro estilo (como costas ou peito). Já o fenômeno Bolt dificilmente será superado por uma questão fisiológica. Ao contrário dos corredores normais, o jamaicano conseguiu se manter no auge da forma ao longo de três edições olímpicas: Pequim-2008, Londres-2012 e Rio-2016. No Brasil, apesar de não quebrar seus recordes, o velocista ainda esteve com tranquilidade à frente dos rivais. A marca de 9s58 s de Bolt nos 100 m rasos, obtida em 2009, também está muito próxima do limite teórico que um ser humano seria capaz de atingir, de 9s48, segundo estudo do professor de biologia Mark Denny, da Universidade de Stanford.

HáBITO Depois de vencer os 100 m, o jamaicano Bolt repete o gesto de, a cada conquista, carregar as sapatilhas da vitória
HÁBITO Depois de vencer os 100 m, o jamaicano Bolt repete o gesto de, a cada conquista, carregar as sapatilhas da vitória (Crédito:Ronald Martinez/Getty Images; Phil Noble/REUTERS; Lucas Jackson/REUTERS)

Se dificilmente veremos outros fenômenos como Phelps ou Bolt, a boa notícia é que os Jogos do Rio também exibiram ao mundo jovens com enorme potencial. Simone Biles, a americana de apenas 19 anos que encantou com piruetas perfeitas na ginástica artística, disputou a sua primeira Olimpíada e saiu premiada com quatro ouros e um bronze. Ela entendeu a importância do feito e, justamente por isso, fugiu de comparações. “Não sou o próximo Phelps ou o próximo Bolt, sou a primeira Simone Biles”, afirmou. A história é parecida com a de Katie Ledecky, estrela da natação dos Estados Unidos que, em Londres-2012, aos 15 anos, havia conquistado uma medalha de ouro e, no Rio, aos 19, garantiu mais quatro premiações douradas, além de uma prata. Mesmo adolescentes, Simone e Katie estão prestes a integrar a exclusiva lista dos monstros sagrados do esporte.