Aquele homem parecia tão intenso que Mônica Salmaso precisava chegar com cuidado. Era um rio inteiro que passava ali.

Exuberante, místico, gracioso e triste, velho e criança, raso e imenso. Um outro brasileiro, da extremidade oposta ao sambista exaltação de si mesmo ou ao urbano, sem prosa ou poesia. Salmaso respirou fundo, entrou em sua casa e voltou com sua alma na voz.

A visita ao cancioneiro sertanejo que ela faz em Caipira, álbum que mostra com shows a partir desta sexta-feira, 11, no Sesc Vila Mariana, é um bom caminho de duas mãos. Uma das expressões musicais de maior poder de comunicação empresta a Mônica a possibilidade da abrangência irrestrita, algo de que seu histórico às vezes carece à revelia de suas intenções. Ao mesmo tempo, a inescapável tristeza de sua voz, um clarinete que chora sem lágrimas, torna profundo um discurso muitas vezes de relevância represada pelo preconceito. Mônica faz bem à música que canta e vice-versa.

Os músicos que a conhecem muito bem sabem onde chegar, tratando sua voz com a delicadeza de quem segura um vaso de louça chinesa. Teco Cardoso toca uma flauta baixo que faz a diferença em Caipira, de Breno Luiz e Paulo Cesar Pinheiro. A viola e o baixo acústico são de Neymar Dias e o piano de André Mehmari. A canção Bom Dia, de Nana Caymmi e Gilberto Gil, é trazida para esse universo pela viola de Neymar, e tem um lirismo reforçado pelo clarinete de Proveta e o acordeom de Toninho Ferragutti.

Mônica explica seu processo de escolha de músicas. “O problema é definir o que não vai entrar.” Depois de trabalhar em outro projeto, como produtora, com o violeiro e compositor Paulo Freire, ela fez sua encomenda. “Pedi músicas e ele me mandou mais de 200, entre folclóricas e tradicionais. Meu desafio era chegar a um ponto que não seria o do disco regional, assim como eu jamais poderia fazer um disco de samba de raiz.”

Antes de fechar o álbum, o compositor Roque Ferreira ligou e fez uma das mais belas colaborações, com Baile Perfumado. “Ele cantou por telefone e me capturou.” Alguns versos que a pegaram: “A dobra daquela estrada / de sofrimento enfeitada / é sombra de Sacerê / É por ali que eu chego / Onde perdi meu sossego / E a dor aprende a doer”. A percussão é de Robertinho Silva.

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Água da Minha Sede, também de Roque, que Zeca Pagodinho tornou um hit, define o potencial de se fazer uma leitura. Ela é aqui outra canção, e tão bela quanto.

MÔNICA SALMASO

Sesc Vila Mariana. R. Pelotas, 141. Telefone: 5080-3000.

6ª (11) e sáb. (12), às 21h.

Dom. (13), às 18h. Preço: R$ 40

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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