1. CLT: “Burgueses burros!”

Getúlio se irritou no encontro em 1935, empresários e donos de jornal reclamam dos planos da Consolidação das Leis do Trabalho, que seria promulgada em 1943.

“Por pressão de Assis Chateaubriand, que também estava altamente preocupado, promoveu-se na residência de Guilherme Guinle uma reunião de Getúlio Vargas com empresários de vários ramos, entre eles alguns proprietários de jornais. A essa reunião Getúlio compareceria para apresentar seus plantos. GetúlioVargas expôs suas preocupações e levou na cara somente queixas de todos os tipos. Choveram reclamações contra o Ministério do Trabalho, cuja fiscalização em favor dos operários só criava entraves e problemas para os donos das empresa. Em resumo, as leis trabalhistas que mantinham os trabalhadores foa de fofocas politiqueiras foram questionadas e combatidas pelo maior número. O anfitrião Guilherme Guinle ficara calado. Aborrecido, Getúlio Vargas fechou-se e mudou de assunto, retirando-se logo depois em companhia apenas de seu ajudante de ordens: o comandade Ernani do Amaral Peixoto. Já no automóvel que o levaria de volta ao Palácio Guanabara, fechou os olhos como se estivesse dormindo, o charuto apagado entre os dedos. Súbito, pareceu despertar de repente e, mais monologando do que puxando conversa, sibilou: ‘Burgueses burros! Estou tentando salvá-los e eles não entenderam”. E por essa falta de compreensão pagaram caro, muito caro mesmo, alguns inocentes úteis.”

  1. Roosevelt: “Meu New deal é muito parecido com o Estado Novo”

 O presidente americano Franklin Delano Roosevelt queria encontrar Getúlio para estreitar as relações com o Brasil – e Getúlio queria o mesmo. Alzira foi emissária e intérprete entre os dois.

“Havia interesse de uma visita de meu pai aos Estados Unidos tão grande que recordo de haver escrito para ele dizendo: ‘É tal o desejo deste país em sua vinda que começo a pensar que o motivo principal é mostrar a cara aos americanos para verem que um ditador pode não ser tão feito como pintam. Estou escrevendo ao sabor da memória. Ainda ignoro o que meu pai fez com minhas cartas. As do Roosevelt para ele e as dele para Roosevelt estão no centro. Lembro de mais um fato: quando Oswaldo Aranha deixou a embaixada em Washington, Roosevelt teria dito: ‘Diga a seu presidente que o meu New Deal é muito parecido com o Estado Novo dele’.”

 

  1. Rompimento com o Eixo, 1942: “Derramamento de sangue brasileiro”

O cargueiro Buarque , do Lloyd Brasileiro foi torpedeado pro submarinos alemães em 16 de fevereiro de 1942. O Baependi, em 15 de agosto, na costa de Sergipoe. Neste, morreram 250 pessoas. Em 11 de agosto de 1942, Vargas decretou o estado de beligerância contra os países do Eixo. Em 31 de agosto Getúlio declarou guerra. Abaixo, o momento em que uma multidão invade o Palácio Guanabara exigindo que o presidente declara guerra a Hitler.

“Emocionado e pálido, pediu silêncio e, do alto da escada, declarou que sempre fora contra o derramamento de sangue, sobretudo de sangue brasileiro. De há algum tempo já estávamos cooperando com os Aliados, através da declaração de ‘beligerância’. Já que os países do Eixo haviam vindo até nosso litoral buscar esse sangue que ele queria poupar, fossem tranquilos para casa Nós iríamos cobrar essa dívida. Prometeu começar, naquele dia mesmo, os preparativos para a nossa entrada ativa e efetiva na guerra. Acenou em sinal de despedida e voltou para seu quarto preocupado e cansado. Meditava sobre a falta de armamento adequado para as tropas, sobre a precariedade de abastecimento, transporte, navios para policiamento do litoral; sobre a extensão desse mesmo litoral, despovoado em tantos pontos, tão vulnerável, portanto, sobre as consequências econômicas que acarretariam, logo no momento em que o Brasil começava a surgir economicamente, a conquistar mercados para seus produtos manufaturados;  e… sobretudo enviar mais sangue brasileiro para ser derramado.”

  1. Sedução dos corruptores: “Não te mete nisto”

No início do último mandato de Getúlio (1951-1954), Alzira começava a ser assediada, inclusive com cantadas e propostas de propina.

A princípio, ainda meio bisonha, levava religiosamente ao conhecimento de meu pai todas as sugestões, contando-lhe os dramas que me eram apresentados. Ora era um ilustre industrial que havia se sacrificado para a eleição dele, or a um cidadão getulista de vinte gerações que se empobrecera por causa do governo anterior; ora, enfim, um correligionário necessitadíssimo. A resposta do meu pai era invariavelmente a mesma: “Não te mete nisso”. E continuava a assinar decretos e despachar processos. Quando eu perguntava o que devia fazer, respondia sempre: “Mandem que se entendam com as repartições competentes, mas não te deixes envolver”

 

  1. Conversas: “O petróleo já causou a morte”

Alzira se encontra no Palácio do Ingá, em Niterói, com um médico que disse o que muita gente estava pensando: as ameaças de morte em torno da nacionalização do petróleo brasileiro e a campanha “O Petróleo é nosso”, levada por geúlio

“Durante um almoço no Palácio do Ingá, entre os presentes estava o grande pediatra e sanitarista dr. Necker Pinto.

Vários foram os assuntos debatidos, um ficou gravado na minha memória: a campanha do petróleo, uns erm contra, outros, a favor. De repente, o dr. Necker, que quase não falar, disse. ‘É. O petróleo já causou a morte de muita gente.’ Senti um frio na espinha, mas consegui me controlar.”

 

  1. Atentado contra Lacerda: “Uma das maiores asneiras do século”

Integrantes da Guarda Pessoal da Presidência, inclusive o guarda-costas de Getúlio Gregório Fortunato, foram presos por terem cometido o atentado da rua Tonelero em 5 de agosto de 1954. Ele tinha como alvo o inimigo do regime, o jornalista Carlos Lacerda, mas que vitimou o major Rubens Vaz. O crime desencadeou a turbulência institucional que levou ao suicídio de Getúlio, em 24 de agosto de 1954. A frase é de Alzira.

“Encontrei meu pai entristecido, mas calmo. Dei algumas instruções, tomei algumas providências e depois fui também dormir. Até hoje não encontro explicações plausíveis, se houve intenção de matar o sr. Carlos Lacerda houve uma das maiores asneiras do século. Se não havia, foi uma brilhante jogada, devido à preguiça, indolência e traição de alguns auxiliares de meu pai (…)

As apurações ordenadas por Tancredo Neves foram demorada demais e demasiado indecisas. Permitiu que a Aeronáutica tomasse-lhe a dianteira, e os trabalhos da Polícia Civil que fossem por água abaixo. Suponho, mas não estou convencida, que ele não tivesse forças para agir melhor. No Galeão, os membros da guarda aprisionados foram seviciados e amedrontados, e depois assassinados dentro da prisão. Além de Gregório Fortunato, só conheci pessoalmente o Climério, um rapaz quieto, com filos, e não afeito a esse tipo de serviço sujo. De onde só me resta uma conclusão: era necessário destruir Getúlio Vargas antes que ele começasse a usufruir de tudo aquilo a que tinha direito, pois havia plantado bem. A quem beneficiou a morte de meu pai? Certamente não foi aos pobres.”

 

  1. Reunião ministerial: “Conspiração de gabinete”

Na noite de 23 de agosto de 1954, Getúlio convocou uma reunião com ministros e chefes das Forças Armadas para tratar da crise institucional e tentar salvar Getúlio. Ao fim da reunião, o presidente decidiu se suicidar. Alzira percebeu tudo e bateu o punho na mesa.

“Fiquei ouvindo e olhando as fisionomias  em torno da mesa. Havia passividade, ódios recalcados, solidariedade formal e até pena. Em nenhum momento senti entusiasmo ou desejo de luta. O general Zenóbio da Costa estava falando que era incontrolável o movimento contra Getúlio Vargas. Não me contive mais, pedi desculpas a meu pai e dei um soco na mesa, dirigindo-me diretamente ao gerneal Zenóbio: ‘Não é somente a sua vida nem a de meu pai que está em jogo. A minha e de minhas crianças também, por isso dou-me o direito de falar. O senhor sabe tão bem quanto eu que tudo isso não passa de uma conspiração de gabinete. Estou em contado com os comandantes das blindadas na Vila Militar, todos de fogos acesos, prontos para vir defender o governo constituído. É uma conspiração de gabinete e mais nada.’.’’