TRAGÉDIA Acima, o casal Marcos Campos Nogueira e Janaína. Ele vivia há 15 anos na Espanha e atuava no ramo de restaurantes. Juntos, tiveram Maria Carolina, 4, e Davi, 1 (no detalhe). À esq., a casa que foi palco da tragédia
TRAGÉDIA Acima, o casal Marcos Campos Nogueira e Janaína. Ele vivia há 15 anos na Espanha e atuava no ramo de restaurantes. Juntos, tiveram Maria Carolina, 4, e Davi, 1 (no detalhe). À esq., a casa que foi palco da tragédia

Wilta Maria Diniz, 54 anos, planejava viajar até a Espanha no segundo semestre deste ano. A ida tinha um motivo especial. Ela havia comprado roupas de bebê e comidas típicas da Paraíba para dar de presente à sobrinha Janaína Santos Américo e ao filho dela, David, de 1 ano. Já Walfran Campos Nogueira, 43 anos, estava com a passagem comprada para Madri. Ele pretendia renovar os documentos e buscar emprego no mesmo país em que o irmão, Marcos Campos Nogueira, vivia há 15 anos. As duas viagens, porém, foram duramente interrompidas. No domingo 18, moradores do condomínio La Arboleda, localizado no município de Pioz, a 60 quilômetros da capital espanhola, sentiram um cheiro forte de uma das casas e ligaram para a Guarda Civil para prestar queixa. Ao chegar ao local, a polícia se deparou com três corpos esquartejados, divididos em seis sacos plásticos e um quatro cadáver sem cortes. Mais tarde, foram identificados como do casal Janaína e Marcos e dos filhos, Maria Carolina, de 4 anos e Davi. As circunstâncias do crime, ainda repleto de mistérios, intriga autoridades espanholas e brasileiras e faz a polícia trabalhar com uma linha de investigação que busca apurar se a família teria envolvimento com drogas ou se teria sido um acerto de dívidas.

A polícia conseguiu entrar na casa com uma chave reserva de um dos vizinhos e encontrou os cadáveres na sala de estar principal. Investigadores responsáveis pela autópsia afirmaram que o corpo de Nogueira possuía diversos cortes superficiais, o que poderia indicar sinais de tortura. Já os filhos do casal teriam sido assassinados com cortes profundos. Segundo a polícia, a família havia sido morta há um mês, em função do estado de decomposição dos corpos. Apesar de muitas perguntas sem respostas, a investigação da polícia leva em consideração que não havia sinais de arrombamento e que a casa estava vazia, indicando que a família havia se mudado há pouco tempo. A tese das autoridades, porém, contraria a imagem do casal nas redes sociais e o depoimento dos parentes que vivem no Brasil. Segundo Walfran, o irmão teria se mudado para a Espanha a convite de um amigo e em busca de melhores condições de trabalho. “Ele foi atrás de sucesso profissional e toda nossa família incentivou”, diz.

Desde 2001 no país espanhol, Marcos havia passado por diferentes cidades, entre elas Corunha, Valladolid e, recentemente, Pioz. Ele trabalhava no segmento de restaurantes e, por isso, de acordo com o primo de Janaína, Pedro Rafael Diniz, mudava de endereço ao trocar de emprego. Depois de dez anos na Espanha, Marcos decidiu voltar temporariamente para João Pessoa, na Paraíba, onde conheceu Janaína, que ficou grávida. Em 2014, eles atravessaram o continente. “No começo do ano passado, Wilta, que era praticamente mãe de Janaína, foi encontrá-los acompanhada da mãe do Marcos”, afirma Pedro. “Marcos tinha emprego fixo, mas estava sempre em busca de crescimento.”. Segundo familiares de Janaína, o casal teria avisado que mudaria de endereço e se mostrava satisfeito com a nova fase. “Eles estavam felizes nesse povoado porque a casa era melhor e o salário de Marcos maior”, diz Diniz. “Nossas conversas eram diárias, eles mandavam fotos da casa e áudio das crianças.”

Investigações

O último contato com os familiares no Brasil ocorreu no dia 16 de agosto. “Nunca passamos tanto tempo sem nos falar, mas como eles tinham acabado de se mudar, imaginei que ainda não tivessem internet”, afirmou Eduardo Bráulio, cunhado de Janaína. O irmão de Marcos soube do crime pela internet. “Somente cinco dias depois de os corpos terem sido encontrados, a Polícia Federal brasileira e espanhola entrou em contato comigo”, diz Walfran. “O Itamaraty não ofereceu nenhuma ajuda, nem com o translado dos corpos, só o governo da Paraíba concedeu a passagem aérea”, afirma. Na segunda-feira 26, Walfran viajará a Madri acompanhado de um investigador particular, contratado pela família. O Itamaraty afirmou, por meio de nota, que acompanha o caso pelo Consulado-Geral do Brasil em Madri. Enquanto isso, outros fatores complicam ainda mais as buscas da Guarda Civil espanhola: as câmeras de vigilância em frente ao condomínio não estavam funcionando.

O sonho de uma vida na Europa
Os principais fatos que marcaram a história de Marcos e Janaína antes de serem brutalmente assassinados na Espanha

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2001 Marcos Campos Nogueira decide sair de João Pessoa (PB) para trabalhar na Espanha em um restaurante

2012 Nogueira volta para o Brasil e se casa com Janaína Santos Américo, em João Pessoa

2013 Janaína tem a primeira filha, Maria Carolina, e ambos planejam se mudar para a cidade de Valladolid, na Espanha, onde Marcos continua trabalhando no segmento de restaurantes

2015 Já na Espanha, o casal tem o segundo filho, Davi

2016 Em agosto, a família faz o último contato com os parentes no Brasil para contar que havia se mudado para Pioz, a cerca de 60 km de Madri, onde Nogueira começaria em um novo emprego

2016 Domingo 18: Vizinhos sentem um forte odor de uma das casas do condomínio La Arboleda e entram em contato com a Guarda Civil , que encontra a família morta

 

Fotos: Pepe Zamora/EFE


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