Angela Merkel, favorita nas eleições legislativas de domingo (24), e seu adversário social-democrata Martin Schulz tentam nesta sexta-feira (22) mobilizar suas tropas e atrair os indecisos em um fim de campanha marcado pela ascensão da direita nacionalista.

Em seu último comício realizado em Munique, no sul da Alemanha, a chanceler, de 63, teve de ouvir as vaias de um grupo durante todo seu discurso.

“É evidente que não vamos construir o futuro com vaias e gritos”, declarou Merkel, impassível.

Nas últimas semanas, a chanceler se tornou alvo de pequenos grupos ligados à direita populista, que começaram a vaiá-la em todos os seus comícios.

Diante de milhares de pessoas reunidas em Berlim, Schulz se mostrou mais combativo do que nunca, apesar dos maus resultados antecipados pelas pesquisas. O candidato social-democrata denunciou “a frieza social” de uma chanceler sem “visão de futuro”.

Ele também atacou, com virulência, o partido de direita nacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD), o qual classificou como “vergonha” para o país.

– A direita populista cresce –

Os conservadores de Merkel superam claramente os social-democratas, mas as últimas pesquisas são motivo de preocupação.

A dois dias das eleições, a União Cristã-Democrata (CDU) e seu aliado bávaro CSU aparecem com 34%-36% das intenções de voto, segundo duas pesquisas publicadas hoje pelos institutos Insa e Forsa. Com esse percentual, aproximam-se de seu segundo pior resultado da história (35,1% em 1998).

Schulz espera ver nessa erosão uma “virada de última hora”, mas esses números não parecem beneficiar o ex-presidente do Parlamento Europeu. De acordo com essas enquetes, os social-democratas teriam apenas entre 21% e 22%, também um mínimo histórico.

Além disso, mais de um terço dos entrevistados ainda está indeciso sobre seu voto no domingo.

É a direita populista da Alternativa para a Alemanha (AfD) que registra um crescimento mais claro neste fim de campanha, chegando a entre 11% e 13% das intenções de voto.

A AfD radicalizou sua campanha, centrando seus ataques contra os imigrantes, os muçulmanos e contra o arrependimento pelos crimes nazistas.

“Acho que teremos um bom resultado. Esperamos ser a terceira força política do país”, diz o simpatizante Arne Siegel, de 55 anos, durante um comício na quinta-feira à noite em Berlim.

“Europa, euro, migrantes, é preciso fazer emendas às leis para que nossos interesses, os interesses do povo alemão, sejam considerados”, acrescentou.

Já os conservadores de Merkel não duvidam da vitória de sua líder. Este comportamento não apenas provocou uma campanha tediante, como irritou os simpatizantes do AfD, que viram nisso uma nova prova da “arrogância do poder de Merkel nos últimos anos”, segundo a revista “Der Spiegel”.

Fiel a seu estilo, a chanceler – que dirige o país há 12 anos – não propôs nada de muito concreto. Simplesmente lançou uma mensagem tranquilizadora de uma “Alemanha onde se vive bem”, à margem dos riscos externos representados por Donald Trump, ou pelo Brexit.

Seu adversário, Schulz, não conseguiu convencer, ao denunciar as injustiças em um país em pleno crescimento, que registra o mais baixo índice de desemprego desde a reunificação.

A perspectiva da chegada da direita nacionalista ao parlamento – algo inédito para um partido desse tipo desde 1945 – gerou também uma série de polêmicas.

O braço direito de Angela Merkel na Chancelaria, Peter Altmaier, ganhou várias críticas – inclusive de seu próprio campo -, ao declarar que valia mais a pena se abster a votar no AfD.

O ministro das Relações Exteriores, o social-democrata Sigmar Gabriel, rebateu, denunciando uma “capitulação da CDU frente ao populismo de direita”.

– Governo Merkel parte IV –

Angela Merkel excluiu governar com os extremos e, nisso, inclui tanto a AfD quanto a esquerda radical. Ambos disputam o terceiro lugar nas pesquisas.

Em tese, a opção mais simples – e sinônimo de continuidade na política alemã – seria repetir uma grande coalizão com os social-democratas.

Outra possibilidade para a chanceler: uma aliança com o partido liberal FDP, que aparentemente vai retornar ao Bundestag depois de ter saído do Parlamento em 2013, e com os Verdes.

No entanto, as divergências entre ecologistas e liberais sobre o futuro do diesel, ou sobre a imigração, dificilmente serão solucionáveis, caso se opte por esse caminho.