TRAGÉDIA O australiano Robert Gropel sobreviveu à expedição da semana passada. Sua mulher, Maria Strydom, não teve a mesma sorte
TRAGÉDIA
O australiano Robert Gropel sobreviveu à expedição da semana passada. Sua mulher, Maria Strydom, não teve a mesma sorte

Com seus recordistas 8.848 metros de altura, o Monte Everest, na fronteira entre o Tibete e o Nepal, representa um desafio à superação humana. Depois de vencido pela primeira vez, em 1953, o cume da cordilheira do Himalaia deixou de pertencer apenas aos sonhos de alpinistas profissionais e se tornou destino recorrente nas viagens de aventura, procurado inclusive por amadores. Nos últimos dias, uma sequência de tragédias colocou em xeque a idoneidade das operadoras que organizam a subida ao Everest.

Quatro pessoas morreram ao tentar chegar ao topo do mundo e, até o fechamento desta edição, outras duas estavam desaparecidas. “Muitos alpinistas sem qualquer experiência escalam o Everest todo ano e as empresas costumam usar equipamentos de má qualidade para baratear os pacotes e ganhar clientes”, disse à Reuters Ang Tshering Sherpa, presidente da Nepal Mountaineering Association, organização não-governamental que acompanha a prática do montanhismo na região. “Com isso, a empresa coloca os alpinistas em risco.”

RESISTÊNCIA Liu Lei (acima), um dos turistas que chegou ao cume do Everest: risco alto e equipamentos de má qualidade
RESISTÊNCIA Liu Lei (acima), um dos turistas que chegou ao cume do Everest: risco alto e equipamentos de má qualidade (Crédito:SUMAN SHRESTHA - AFP)

O problema está na ambição desmedida das operadoras. Nos últimos anos, subir o Everest se tornou uma questão mercantilista. Qualquer um pode contratar as agências que promovem as escaladas, desde que o interessado disponha de pelo menos R$ 130 mil para adquirir os pacotes. “Escalar o Everest virou uma coisa muito comercial”, disse à ISTOÉ Thomaz Brandolin, alpinista brasileiro profissional que levou uma equipe à montanha em 1991. “Aceita-se cada vez mais pessoas sem experiência ou preparo físico. O sujeito tem dinheiro para pagar o equipamento, se inscreve e vai. Virou festa.”

A sanha financeira tem motivado  as empresas responsáveis pelas escaladas a levar para o monte grupos cada vez mais numerosos, sem o aumento proporcional de monitores. O filme “Evereste”, exibido no Brasil no ano passado, retrata uma situação parecida: a tragédia de maio de 1996, quando dois grupos de alpinistas comandados pelos experientes Scott Fischer (da Mountain Madness) e Rob Hall (da Adventure Consultants) fizeram uma expedição que resultou na morte de oito pessoas, incluindo Fischer e Hall.

Na semana passada, Subhash Paul subia pela primeira vez a montanha em um dos passeios que levam para o alto do Everest pelo menos 1.300 pessoas por ano. Não foi uma avalanche nem qualquer intempérie imprevista que tirou a vida do indiano de 43 anos. Paul morreu de hipobaropatia – a chamada doença de altura –, mal que mata em grandes altitudes por falta de oxigênio. Antes de morrer, o alpinista estreante havia subido 8 mil metros. No dia anterior, a australiana Maria Strydom e o holandês Eric Arnold também não sobreviveram à escalada. A causa da morte foi a mesma de Paul. Segundo especialistas, a hipobaropatia ocorre apenas acima dos 2.400 metros de altitude, quando alpinistas desavisados entram em áreas que exigem oxigênio suplementar, ou decidem se arriscar sem o equipamento recomendado – ou sem equipamento suficiente para todos do grupo.

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Na teoria, desde o ano passado o governo do Nepal só permite a subida para esportistas que já tenham alcançando o topo de outras montanhas com ao menos 6.500 metros. Mas a regra nunca chegou a ser implementada e o Ministério do Turismo afirma que não há nenhuma previsão para colocá-la em prática. “Nós precisamos manter a glória das escaladas ao Everest”, disse à CNN Mohan Krishna Sapkota, secretária adjunta do ministério.