84Nenhuma surpresa na notícia de que ressurgiram no Congresso, com força renovada, as manobras para que “doações políticas”, provenientes de caixa 2, sejam judicialmente equiparadas às peraltices de nossos filhos pequenos, não ao gravíssimo crime que realmente são.

É enorme ingenuidade imaginar que nossos deputados e senadores – ou melhor, sua parcela majoritária, que dita o ritmo do jogo – desistiria da pretensão à auto-anistia, mesmo depois de duas tentativas fracassadas na mesma direção.

Lobos podem ser escorraçados pelo porrete e pelos cães pastores, mas sua voracidade e instinto de sobrevivência sempre os fará atacar ovelhas.

O movimento suprapartidário ganhou força moral e fática. O primeiro insumo foi dado por Fernando Henrique Cardoso, sempre dividido entre mostrar-se como referência histórica na vida pública brasileira e a solidariedade a velhos aliados flagrados em delito. Do alto da biografia que se atribui, o ex-presidente lançou mão do habitual malabarismo acadêmico para separar o joio do joio. Segundo sua lógica, corruptos que receberam dinheiro sujo e contabilizaram a erva na Justiça Eleitoral são diferentes de corruptos que não lançaram mão desse álibi.

O outro detonador da atual revolta dos políticos foi o STF, que tornou réu, pelo mesmo golpe, o senador Valdir Raupp (PMDB-RO). A clareza do voto dado na ocasião pelo ministro Celso de Mello (foto) ruborizaria FHC e suas legiões, fossem eles simples mortais: “a prestação de contas pode constituir meio instrumental do crime de lavagem de dinheiro se os recursos doados, mesmo oficialmente, tiverem origem criminosa resultante da prática de outro delito penal, como crimes contra a administração pública. Configurado esse contexto, que traduz uma engenhosa estratégia, a prestação de contas atuará como dissimulação do caráter delituoso. Os agentes da conduta criminosa objetivaram, por intermédio da Justiça Eleitoral, conferir aparência de legitimidade a doações manchadas em sua origem pela nota da delituosidade”.

BRASIL
O debate da hora
Todas as seccionais da OAB estarão reunidas nesta quarta-feira 15, para deliberar sobre audiências públicas que farão nos estados sobre a reforma trabalhista, seguidas de outra audiência pública ainda maior, em Brasília. Enquanto isso, sindicatos de centrais que simpatizam com partes da reforma ameaçam se desfiliar para retornarem à condição de membros da CUT. Resta saber se o movimento constrangerá o Legislativo federal, alheio ao drama social.

LETRAS
Por debaixo do pó

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Por quatro anos, o jornalista Allan de Abreu (foto) entrevistou policiais, juízes, promotores, traficantes e cocaleiros no Brasil, Paraguai e Bolívia. No livro “Cocaína”, radiografia do mercado das drogas, o autor devassa a ascensão e a queda dos grandes barões do pó; a criatividade para despistar a polícia, a organização empresarial de grupos criminosos e a corrupção do aparelho repressivo. A obra chega às livrarias, pela Record, em abril.

SENADO
Jogo de compadres

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Com muitos projetos para apreciar, o Senado funciona a meia bomba. Só a presidência da CCJ foi definida, entregue a Edson Lobão (PMDB-MA). As escolhas dos titulares das demais comissões não avançam porque Renan Calheiros (PMDB-AL) briga para Fernando Collor de Mello assumir a Comissão de Relações Exteriores. Mas tais escolhas são definidas pelo tamanho das bancadas. E o ex-presidente é o único filiado do PTC no Senado. A insistência tem a política alagoana na mesa. Collor, em gratidão, ajudaria Renan tentar se reeleger ao Senado, no ano que vem.

TRÂNSITO
Guiar feminino
Representando mais da metade da população brasileira (51%), as mulheres envolvem-se muito menos em acidentes de trânsito. Segundo as indenizações pagas pelo Seguro DPVAT, do total desembolsado a motoristas, passageiros ou pedestres, apenas 25% foram para o sexo feminino. O restante coube aos homens. Elas representaram ainda só 18% das vítimas fatais. Os dados são de 2015, os mais atualizados do setor.

LAVA JATO
Batons para muitas cuecas
É pólvora pura o depoimento dado aos investigadores da Lava Jato por Jorge Luiz Mendes Pereira da Silva, o Doda, acusado de ser o intermediário entre empreiteiras e os conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do Rio. Executivo da Andrade Gutierrez disseram que o empresário recebia valores em espécie da ordem de 1% das obras, a mando dos conselheiros do órgão. Ele entregou à Justiça farta e minuciosa documentação. O clima no TCRJ oscila entre o pânico e o pavor. As denúncias também alcançam muitos prefeitos que tiveram suas contas julgadas na Corte.

TV PAGA
Em baixa
A relação direta entre renda e TV por assinatura teve um novo indicador em janeiro. Cerca de 140 mil clientes saíram da base, cortados por inadimplência ou mesmo tendo pedido desligamento. A redução atinge mais fortemente a Net/Claro e a Sky, sendo menor na Oi. Atualmente, uns 16 milhões de brasileiros pagam por canais fechados, número que seria bem maior não fosse à crise econômica.

AGRICULTURA
Grãos fartos

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Quem acompanha o dia-a-dia no campo considerou modesta a estimativa da safra de grãos 2016/2017 (222,9 milhões de toneladas) anunciada na semana passada. Em função do bom clima, o volume de milho pode crescer mais cinco milhões de toneladas, sobre os 89 milhões de toneladas  previstos. Já a soja, dos 107,6 milhões de toneladas alcançaria 109 milhões de toneladas.

ESPORTES
Cofres vazios

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As confederações esportivas brasileiras aguardam com ansiedade a liberação de verbas por parte do Ministério do Esporte. Com a queda na arrecadação das loterias federais, que são uma relevante fonte de recursos para elas, e a drástica redução de patrocínios estatais no atual ciclo, tocar projetos ficou difícil. O orçamento da União de 2017 foi sancionado em janeiro, mas até agora nenhum sinal de fumaça saiu da chaminé do ministério.

PODER
Tal e qual

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Enquanto Michel Temer luta para compor sua equipe, pessoas próximas ao presidente citam Antônio Cláudio Mariz de Oliveira. Duas vezes o advogado recuou em assumir cargos no alto escalão: o Ministério da Justiça e a Secretaria Nacional de Segurança Pública.