Dentre os filmes que compõem o grande ato político contra o governo em que se transformou esta edição do Festival de Brasília, Martírio ocupa lugar especial. Em 2h40 de projeção, o diretor Vincent Carelli mostra a saga trágica dos guaranis-caiovás, mesclando cenas com os índios, tomadas ao longo dos anos, e outras de arquivo. Recria assim uma cronologia de genocídio que vem da Guerra do Paraguai, passa pelas políticas humanitárias integracionistas de Rondon, o Estado Novo, os governos militares e os 13 anos do PT no poder.

Se as imagens dos indígenas estão entre as mais pungentes, as cenas das discussões da questão no parlamento brasileiro encontram-se entre as mais esclarecedoras – e beiram o ridículo. Carelli recupera cenas históricas, como as de Ailton Kranak pintando o rosto enquanto discursa durante a Constituinte. E contrapõe as sequências como as da senadora Kátia Abreu dizendo que já haviam conseguido se livrar do MST, depois do Código Florestal e faltava agora apenas remover a questão indígena do caminho dos ruralistas.

Outros parlamentares se expõem ao ridículo, como aquele que diz que as demarcações ocorreriam só se passassem por cima do seu cadáver. De modo anedótico, o filme expõe a estrutura de poder no Brasil e, nesse aspecto particular, sua relação com a questão indígena.

Martírio é, também, um filme em que o documentarista se expõe como militante da causa à qual dedicou sua vida. Talvez não seja a primeira vez que o cinema enfoca o embate desigual entre índios e fazendeiros que procuram ocupar suas terras. Mas a articulação com a história e com a bancada ruralista no Congresso fazem de Martírio um caso especial. Aplaudido em pé por vários minutos, recebeu uma consagração como havia muito não se assistia no Cine Brasília.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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