O líder dos protestos populares que abalam há seis meses a região norte do Marrocos, Nasser Zefzafi, foi detido pela Polícia nesta segunda-feira (29) – anunciou uma fonte do governo.

A informação foi confirmada pelo Ministério do Interior.

A Justiça procurava por Zefzafi desde sexta-feira, depois que ele interrompeu a oração de um imã em uma mesquita da cidade de Al-Hoceima, no norte do país.

“Ele foi detido na companhia de outros indivíduos” e transferido para Casablanca, confirmou em uma nota o procurador do rei em Al-Hoceima, sem indicar o local, ou as circunstâncias exatas da prisão.

As pessoas detidas serão investigadas “por atentado à segurança interna do Estado e por outros atos criminosos em virtude da lei”, acrescentou o procurador.

Nos últimos meses, Zefzafi, de 39 anos e desempregado, transformou-se no rosto do movimento popular que abala a região do Rif. Lá, a morte de um vendedor de peixe, triturado acidentalmente por um caminhão de lixo em outubro de 2016, provocou uma onda de indignação.

Organizados por pequenos grupos de ativistas locais que seguiam Zefzafi, os protestos dos últimos meses ganharam um caráter mais social e político, com a exigência do desenvolvimento do Rif — uma área marginalizada, de acordo com os manifestantes — e com a adoção de um discurso mais conservador, com referências islâmicas.

No Facebook, Zefzafi desafiou o “poder” e denunciou a “ditadura, a corrupção e a repressão de um Estado policial”.

Também deu inúmeras “coletivas de imprensa” ao vivo nas redes sociais, nas ruas de sua cidade, ou na casa de sua família, sob as cores da bandeira vermelha e branca da efêmera república do Rif dos anos 1920 e o retrato de seu fundador Abdelkrim el-Khattabi, que venceu o colonialismo espanhol.

Ele é bastante popular, principalmente entre os jovens, em sua cidade natal de Al-Hoceima, onde conseguiu mobilizar milhares de manifestantes. Também é criticado por suas declarações por vezes muito violentas e pela maneira como excluiu vários partidários do movimento.

Em resposta à contestação, o Estado relançou nas últimas semanas um catálogo de projetos de desenvolvimento para a região, que se tornou uma “prioridade estratégica”. No texto, o governo diz querer “favorecer a cultura do diálogo”.

Na sexta-feira passada, Zefzafi interrompeu o sermão do imã durante a oração na mesquita de Mohammed V, a principal de Al-Hoceima. De acordo com a ordem de detenção, Zefzafi é acusado de “insultar o pregador, pronunciar discursos provocadores e semear distúrbios”.

‘Atuação repressora’

Para a Associação Marroquina de Direitos Humanos (AMDH), foi “a insistência” do imã em “mobilizar fiéis contra a manifestação que provocou a ira dos militantes do hirak”.

Zefzafi conseguiu escapar dos policiais na saída da mesquita, antes de se refugiar na casa de sua família, e desaparecer.

Em seu mais recente vídeo divulgado no Facebook, o líder dos protestos pede “a manutenção do caráter pacífico das manifestações”. Desde então, a polícia realizou 22 detenções, principalmente de lideranças do movimento, de acordo com fontes oficiais.

Em nota divulgada hoje à noite, a AMDH afirma ter identificado cerca de 50 detidos.

“O número de presos não para de aumentar” e já passa de 70 em toda província, denunciou.

A associação pede às autoridades que “respeitem os direitos e as liberdades dos cidadãos”, exige que sejam divulgadas as identidades dos suspeitos detidos e adverte o Estado de que assumirá “toda a responsabilidade das consequências dessa atuação repressora” contra “manifestações pacíficas” e “demandas legítimas da população”.