O mês decisivo para o governo de Michel Temer começa nessa Quarta-Feira de Cinzas. Em março, virá o que o procurador Carlos Fernando Lima, integrante da força-tarefa da Lava Jato, definiu como um tsunami na política brasileira, com a abertura das delações da Odebrecht, a maior das empreiteiras brasileiras, que praticamente sequestrou todo o sistema político, colocando-o a serviço de sua própria agenda empresarial.

Sabe-se, desde já, que políticos de todas as cores estão delatados. Mas o ônus maior é sempre de quem está no poder. Temer faz parte da lista da empreiteira, assim como pelo menos seis de seus ministros: Eliseu Padilha, da Casa Civil, Moreira Franco, da Secretaria Geral, José Serra, do Itamaraty, Bruno Araújo, das Cidades, Marcos Pereira, do Desenvolvimento, e Gilberto Kassab, da Ciência e Tecnologia.

A regra anunciada por Temer prevê que apenas ministros denunciados pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sejam afastados – o que não deve acontecer imediatamente. A tendência é que Janot peça a abertura de inquéritos ao Supremo Tribunal Federal e o ritmo dessas investigações será ditado pelo ministro Edson Fachin, revisor da Lava Jato na Corte. Ainda assim, o estrago na imagem do governo tende a ser forte, num momento em que também serão votadas reformas importantes, como a da Previdência.

O grande teste do governo Temer virá com a abertura da delação da Odebrecht logo após o Carnaval

Em paralelo, o governo também terá de enfrentar uma onda de mobilizações em março. Na quarta-feira 8, Dia Internacional da Mulher, estão previstas manifestações em todo o País, que serão marcadas por pautas feministas, mas que também terão o “Fora Temer” como um elemento unificador. Uma semana depois, no dia 15, a Central Única dos Trabalhadores promete uma greve geral. E a Força Sindical, do deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), que integra a base de Temer, também organiza protestos contra a reforma da Previdência.

Se isso não bastasse, o ministro Herman Benjamin, do Tribunal Superior Eleitoral, decidiu ouvir todos os delatores que citam Dilma e Temer na ação em que se cogita propor a cassação da chapa Dilma-Temer. Um deles será Marcelo Odebrecht e tudo indica que ele e outros executivos da empreiteira apontarão que doações da empreiteira ao consórcio PT-PMDB tiveram contrapartidas em contratos federais – o que levará o relator a propor a cassação da chapa.

Março será o mês decisivo para saber se a “pinguela” cairá ou se chegará até 2018. Se Temer conseguir atravessar esse período, dificilmente deixará de chegar ao fim do mandato.