A Turquia deteve nesta segunda-feira quase 200 membros do principal partido pró-curdos do país e atacou no Iraque alvos da rebelião curda, depois que um grupo dissidente reivindicou a autoria de um atentado que deixou mais de 40 mortos em Istambul.

As autoridades detiveram 198 membros do Partido Democrático dos Povos (HDP), cujo líder Selahattin Demirtas já havia sido detido junto a uma dezena de deputados no início de novembro, em um dos expurgos realizados por Ancara após a tentativa de golpe de Estado de julho.

Na noite de sábado, um duplo atentado em Istambul deixou 44 mortos, entre eles 36 policiais, segundo o último balanço comunicado pelo ministro da Saúde, Recep Akdag.

Um grupo radical curdo, os Falcões da Liberdade do Curdistão (TAK), reivindicou o ataque de sábado, um dos mais mortíferos já lançados na cidade turca nos últimos anos.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, considera que o HDP está estreitamente vinculado a outro movimento curdo, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), e que, portanto, já não é um interlocutor legítimo.

Entre os detidos estão os chefes de seção do HDP em Istambul, Aysel Guzel, e Ancara, Ibrahim Binici, segundo a agência pró-governamental Anatolia.

Os detidos são suspeitos de pertencer ao PKK, considerado um grupo terrorista por Ancara, ou de difundir sua propaganda, acrescentou a Anatolia.

Além destas prisões, as represálias turcas tiveram como alvo a rebelião curda no norte do Iraque.

Segundo a agência Dogan, o exército turco atacou “membros de uma organização terrorista separatista” (o PKK) na região de Zab, no norte do Iraque, e destruiu seu quartel-general, refúgios e posições armadas.

– ‘Sede de vingança’ –

Em colunas publicadas no jornal Hurriyet, vários editorialistas criticaram a política do Governo, movida, segundo eles, por uma sede de vingança sem estratégia clara para colocar fim aos atentados.

“O ministro (do Interior Süleyman) Soylu disse que a vingança é a única coisa na ordem do dia do governo. É um slogan fraco porque dá a entender que o Governo não tem uma estratégia mais profunda para lutar contra a atual onda de ataques”, escreve Murat Yetkin.

“Basta do presidente, do primeiro-ministro, do ministro do Interior e de outros que oferecem uma retórica política vazia que promete campanhas de vingança contra o terrorismo. É hora de agir. Os que se mostraram incapazes e incompetentes devem se retirar ou ser substituídos”, opina Yusuf Kanli.

O jornal pró-governamental Daily Sabah denuncia, por sua vez, a atitude hipócrita dos Estados Unidos e da União Europeia, acusados por ele de ser passivos ante o PKK.