O demônio do bolivarismo trocou a guayabera por terno e gravata e se reuniu no Vaticano com o papa Francisco na semana passada. Queria fazer crer que o inferno sofrido pela população da Venezuela é culpa daqueles que lhe fazem oposição política e não dele. O papa pediu-lhe “sinceridade” no diálogo com oponentes, mas sabe que suas palavras caíram no chão – até porque conhece, e muito bem, o histórico cheiro de enxofre das demagogas estratégias de governantes populistas da América Latina. Quanto aos venezuelanos, também eles acreditam cada vez menos em seu presidente, Nicolás Maduro (o diabo engravatado). Na quarta-feira 26, enquanto milhares de manifestantes tomavam as ruas do país contra a suspensão do referendo revogatório que lhe encolheria o mandato, Maduro viu em pesquisas que o índice daqueles que querem vê-lo pelas costas subiu para quase 70%. Nos protestos duas pessoas morreram, 120 ficaram feridas e 147 foram presas. A situação de Maduro se complicou rápido demais, e deve-se essa bênção também à firme posição do Brasil, da Argentina e do Paraguai em bani-lo do Mercosul por violação dos direitos humanos. Ainda cerram fileiras com Maduro boa parte das forças armadas e dos tribunais, aparelhados por ele. Mas, excluindo-se a hipótese de seu narcisismo jogar o país num banho de sangue, é provável que a contagem regressiva de seu mandato seja agora bastante abreviada: centenas de milhares de pessoas marcharão na quinta-feira 3 ao palácio de Miraflores e, chegando lá, declararão vaga a presidência do país. Poderá ser a Bastilha venezuelana.