Há menos de 100 dias na Prefeitura de São Paulo, o tucano João Doria já é o plano A da direita brasileira para a próxima disputa presidencial. O motivo é o desgaste dos três principais caciques do PSDB, alvejados por denúncias da Lava Jato. Segundo uma pesquisa Ipsos, divulgada na quinta-feira 30, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) é rejeitado por 74% dos brasileiros, enquanto o senador José Serra (PSDB-SP) é reprovado por 70% e o governador Geraldo Alckmin por 67%. Ao que tudo indica, os três são alvos de pedidos de inquéritos na chamada “lista de Janot”.

Doria, por sua vez, foi aprovado por 70% dos paulistanos numa outra pesquisa e tem conseguido se manter em evidência com seu marketing frenético nas redes sociais. Não há dia em que ele não crie um motivo para estar presente no noticiário, seja se fantasiando, seja falando mal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou simplesmente batendo boca com manifestantes. Além disso, como é neófito na política, ele passa ao largo dos esquemas das empreiteiras.

No campo oposto, Lula teria presença quase garantida num eventual segundo turno, porque, a despeito de todas as denúncias que sofre, ainda desperta em boa parte do povo brasileiro a memória de um tempo feliz, em que praticamente todos tinham emprego, o Brasil era admirado no mundo e empresários e trabalhadores progrediam. Uma prova de sua força ocorreu recentemente em Monteiro, na Paraíba, onde conseguiu reunir milhares de pessoas para a “inauguração popular” da transposição do São Francisco.

Contra Lula, pesa o risco de uma eventual inabilitação judicial, mas uma manobra dessa natureza seria extremamente arriscada num País de credibilidade corroída como é o Brasil dos dias atuais. Como disse Nelson Jobim, que presidiu o Supremo Tribunal Federal, se a elite brasileira excluísse Lula do jogo por medo de perder as eleições estaria agindo como os militares.

Em paralelo, outros nomes desidrataram. Marina Silva, que teve bom desempenho na última disputa presidencial, dá a aparência de se manter hibernando. Até agora, ela não se pronunciou sobre temas polêmicos, que interessam a milhões de brasileiros, como a reforma da Previdência e a terceirização. O mesmo pode ser dito de Joaquim Barbosa, que, aparentemente, arquivou um eventual projeto presidencial. E Ciro Gomes parece tentar repetir Eduardo Campos, com o discurso de que é necessário quebrar a polarização PT-PSDB. Jair Bolsonaro, por sua vez, enfrentaria resistência da intelectualidade e do establishment político e econômico.

Portanto, nas condições atuais, o cenário que se desenha é de uma disputa entre Lula e Doria, sem nenhuma “terceira via” com capacidade para furar o bloqueio. Uma eleição que, de certa forma, poderá ser parecida com a de 1989, a primeira pós-redemocratização, em que Lula e Fernando Collor se enfrentaram.

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