Dólar e bolsa, dois indicadores da temperatura do mercado diante de fatos controversos, mal se mexeram nesta terça-feira, 11, após a divulgação da lista de políticos que serão investigados a pedido do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).

A explicação geral é que os nomes dos suspeitos eram conhecidos. No entanto, a leitura dos economistas é que a “incerteza” política aumentou. Será preciso monitorar a capacidade de articulação do governo e do Congresso para aprovar as reformas, em especial a da Previdência.

“Os nomes dos políticos já eram conhecidos, e acho que não apareceu nenhuma mancha nova de batom, por isso, a reação do mercado foi calma: já estava no ‘preço’, como a gente costuma falar”, diz o economista e ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros. Ele considera muito mais preocupante o futuro político do País: “Todo mundo está se fingindo de morto, mas o fato é que teremos de reconstruir o sistema político e eleitoral para 2018 e não sabemos o que e quem vamos ter lá na frente”.

Nas próximas semanas, a prioridade entre os analistas e consultores econômicos é monitorar a reação dos políticos na negociação das reformas, dado que os oficialmente investigados são peças-chave para o andamento dos projetos. Na lista de Fachin estão 39 deputados, entre eles o presidente da Casa, Rodrigo Maia, principal defensor da agenda de alterações nas leis da Previdência, trabalhista e tributária. No Senado, há 24 investigados – quase um terço da Casa. Entre os oito ministros está Eliseu Padilha, um dos principais porta-vozes do governo na discussão das reformas.

Risco

“No calor do momento, logo após a divulgação dos inquéritos, ainda não dá para saber como a classe política vai reagir, mas o grande risco é o Congresso perder o rumo, gastar energia se voltando contra o Supremo ou se defendendo, e isso afetar a tramitação das reformas, em especial a da Previdência”, disse Evandro Buccini, economista-chefe da gestora de recursos Rio Bravo Investimentos.

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Nesta terça-feira, o que se viu na Câmara e no Senado foi uma debandada, apesar de estar na pauta um dos projetos mais importantes do momento, que trata das medidas essenciais para a recuperação das contas públicas dos Estados, hoje no vermelho.

“É natural que a primeira reação seja se esconder e o feriado de Páscoa ajuda na desmobilização, mas não há como interromper negociações em torno das reformas”, disse Richard Back, analista político na empresa XP Investimentos.

Na avaliação de Back, de fato, há mais “incerteza” na cena política. Os parlamentares, para preservar o foro privilegiado, tendem a ficar mais preocupados com a reeleição, o que pode comprometer a já complicada negociação da reforma da Previdência. Porém, avalia Back, eles vão se lembrar que precisam do apoio do governo. “Ninguém vai querer ficar fora do guarda-chuva do governo justo agora”, afirmou ele.

A economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria Integrada, também vai monitorar a reação dos parlamentares. A expectativa dela é que “o instinto de sobrevivência” deles possa, quem sabe, criar um efeito benéfico para a economia. “A pressão sobre a classe política aumentou muito, e todo político sabe que, na atual circunstância, o caminho é melhorar a economia, gerar empregos – e isso não vai acontecer sem a aprovação das reformas, principalmente a da Previdência”, disse Alessandra.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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