A barba comprida, os dentes brancos, as roupas claras, o tom de voz baixo e o olhar fixo nos olhos do interlocutor – a ponto de causar até certo desconforto. Tudo na figura de Sri Prem Baba evoca um ar místico, espiritualizado. Em seu discurso, não há nada de novo. Mistura filosofias de religiões do oriente com elementos vindos de sua formação hindu, psicologia, psicanálise e autoajuda. Mas fala o que as pessoas querem ouvir, do jeito que elas querem ouvir. Não há julgamento. Há leveza. Prem Baba tem uma personalidade hipnotizante, que o permite soltar uma gargalhada em meio a uma fala sobre dor e sofrimento, sem que esse gesto pareça ofensivo. Brasileiro, nascido em São Paulo, ele viajou para Índia em 1999 e lá encontrou seu guru, um indiano pertencente à linhagem Sachcha, da cultura hindu. Mudou de nome: Janderson de Oliveira virou Sri Prem Baba, que em português significa “pai do amor”. Passou a disseminar suas ideias sobre a busca da felicidade e a cura do sofrimento e atraiu seguidores, entre eles celebridades que ajudaram a torná-lo famoso. Se o chamam de charlatão, ele se pergunta: “Será que eu sou? Estou aberto para o autoquestionamento”. De vez em quando, perde a fé na humanidade, como quando assistiu a um show pela televisão e viu como uma música, considerada por ele nojenta, fazia sucesso. “Mas durou pouco”, diz o mestre, que passa uma temporada em São Paulo para uma palestra no Festival Path, no domingo 7. Todo mundo pode seguir suas orientações? “A grande maioria, sim”, afirma. “Alguns indivíduos estão tão condicionados que já não têm nenhuma abertura. Mas uma pessoa que estiver lendo essa reportagem, se isso chegou até ela, é porque pode.” Abaixo, algumas das lições do guru mais pop do Brasil.

FÃS O guru com seus seguidores ilustres. Carlos Alberto Ricelli, Bruna Lombardi e o filho Kim
FÃS O guru com seus seguidores ilustres. Carlos Alberto Ricelli, Bruna Lombardi e o filho Kim (Crédito:Divulgação)

Sentido vida

Existe razão para a existência humana? Para Prem Baba, sim, mas as particularidades dessa resposta são individuais. “O propósito de estar no mundo tem relação com quem somos e com os dons e talentos reais que devem ser despertados dentro de cada um.” Perguntar-se por que nasceu e por que acorda todas as manhãs pode não ter uma conclusão imediata, mas investigar os motivos seria, segundo o mestre espiritual, o caminho da felicidade. “Porque muitas vezes a pessoa está vivendo uma vida totalmente artificial, muito distante dela mesma. Vive mentiras no casamento, no trabalho. Faz algo a partir de uma obrigação social para ser aceito, amado, ter poder e fama.” Prem Baba usa uma técnica para ajudar seus seguidores perguntando o que, quando criança, queriam ser ao crescer. “Daí surgem algumas pistas”, afirma. “A pessoa vem ao mundo com a consciência do propósito, mas com o tempo vai se esquecendo, é levada a acreditar que era impossível realizá-lo, que aquilo não fazia sentido, ou que não dava dinheiro, e com isso vai se desviando do caminho.”

Dinheiro

O guru questiona a cultura da acumulação e do lucro, mas não condena ter dinheiro, nem o ato de ganhá-lo e gastá-lo. “Se a pessoa sabe quem é e manifesta isso naturalmente, entra em harmonia com o fluxo da prosperidade”, diz. O problema é colocar a ideia de enriquecer como objetivo maior, é escolher uma profissão que tenha um bom retorno financeiro, mas que, por outro lado, não traga satisfação pessoal. “Em algum momento nós somos ensinados a correr atrás de poder e lucro em detrimento daquilo que de fato nós somos e do que viemos ao mundo para fazer. A pessoa até consegue ter um lugar e se estabelecer, mas a custo de um tremendo sofrimento.”

Juliana Paes
Juliana Paes (Crédito:Divulgação)

Relacionamentos

Questionado sobre qual seria a maior angústia humana atualmente, Prem Baba responde sem titubear: “Como me relaciono sem me machucar?” Independentemente de nacionalidade e classe social, é a pergunta que mais tem escutado entre seus seguidores. Vale para relacionamentos amorosos, familiares e de amizade. “Há uma inabilidade geral em se relacionar de uma forma realmente construtiva”, afirma. Nas relações conjugais, principalmente. “As pessoas são dependentes, carentes. Acabam se tornando vítimas de comportamentos destrutivos, forçando o outro a dar algo e, consequentemente, trazendo seu pior para fora.” O primeiro passo é perceber essa dinâmica nociva para o casal e admitir, por mais doloroso que seja, que algo não anda bem.

Autorresponsabilidade

O conceito está presente tanto em religiões milenares quanto na autoajuda. Diz respeito à capacidade de se perceber escolhendo as situações em que se coloca na vida, principalmente as negativas. “Você fala, por exemplo, que quer ter um relacionamento saudável com sua namorada. Mas então por que você faz exatamente aquilo que ela não quer que alguém faça, sabendo que a incomoda? Esse comportamento existe porque estamos condicionados a sofrer”, diz Prem Baba. Se essa atitude não for observada, resulta em uma constante culpabilização do outro pelo próprio sofrimento. “Há pessoas que não têm condições de se autorresponsabilizar por sua vida. Não dão conta de perceber que estão, sim, escolhendo aquele lugar de dor. Por isso, acusam o outro. Essa ideia serve para toda e qualquer fonte de perturbação.”

Reynaldo Gianecchini
Reynaldo Gianecchini (Crédito:Divulgação)

Tecnologia

Internet, redes sociais, smartphones. A revolução tecnológica que vivemos está servindo como “amortecedor”. “Não podemos usar as redes para fugir de nós mesmos. Devem ser usadas com consciência, como uma ferramenta.” A orientação é impor limites, como falar para si os momentos em que é preciso dar um tempo. “Se ficar o tempo todo conectado, você esquece de si.”

Silêncio

“Absolutamente necessário, fundamental”, nas palavras do guru. Somente quando não há nenhum ruído é que é possível parar para se observar e ficar cara a cara com quem é. “Se você quer encontrar aquilo que nunca morre dentro de você, se quer encontrar aquilo que não se divide, a fonte da felicidade, precisa abdicar alguns instantes da sua vida para o cultivo do silêncio. É a fase zero do processo.” Prem Baba não fala necessariamente de meditação, mas de reservar um tempo sem nenhuma interferência externa. Aos que o buscam para pedir ajuda, orienta começar com um mínimo: reservar apenas um minuto de silêncio e tentar fazer isso antes das principais atividades do dia.

Educar com amor

Os conceitos do guru se baseiam na ideia de que um adulto em sofrimento, que causa mal aos outros, foi uma criança ferida. Psicanálise pura. “As ondas de desamor recebidas na infância são como um espinho cravado na carne, ficam ali e infeccionam. E a forma como ela encontrou pra sobreviver foi ativando esse mecanismo de defesa que eu chamo de maldade.” Foi por notar a dificuldade de os adultos lidarem com o processo de autoconhecimento que Prem Baba decidiu investir na educação infantil. O instituto fundado por ele tem um trabalho com escolas públicas de Nazaré Paulista, no interior de São Paulo, para capacitar professores tendo como base as ideias disseminadas pelo guru, como a prática do silêncio. “Desde cedo, o jovem pode ter a chance de se alinhar com a consciência do propósito, então teremos um mundo melhor lá na frente.” A última lição aos adultos, portanto: dêem mais amor às crianças.

Conheça o mestre brasileiro

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Quem é
Mestre espiritual da linhagem Sachcha, da cultura hinduísta, tornou-se o primeiro brasileiro a frente de um ashram, uma espécie de monastério, na Índia. Até hoje passa temporadas no templo Sachcha Dham Ashram, na cidade indiana de Rishikesh. Ganhou popularidade ao disseminar seus conceitos no ocidente. Atraiu uma série de seguidores, entre eles atrizes e atores famosos no Brasil, pelos quais é chamado de guru

Quem foi
Nasceu Janderson Fernandes de Oliveira em 1965, no bairro da Aclimação, em São Paulo. Foi batizado na Igreja Católica e criado pela avó, evangélica e benzedeira. Na infância, era fã de Bruce Lee e de artes marciais. Aos 14 anos começou a estudar ioga e, mais tarde, tornou-se instrutor. Formou-se em psicologia. Em 1999, foi para a Índia, onde conheceu o indiano Maharaj Ji, que virou seu mestre. Mudou de nome para Sri Prem Baba (pai do amor) em 2002

O que faz
Passa temporadas no Brasil, onde orienta retiros nas cidades de Alto Paraíso de Goiás e Nazaré Paulista (SP), e na Índia. Dá palestras, chamadas por ele de “satsang” (encontro com a verdade), em várias cidades do mundo, principalmente no Ocidente. Difunde conceitos que se baseiam na necessidade de buscar autoconhecimento e de ter um propósito na vida para a disseminação do amor