ALFREDO JAAR – THE POLITICS OF IMAGES/ Galeria Luisa Strina, SP/ até 22/4

Alfredo Jaar se diz um jornalista frustrado. Arquiteto de formação e artista por ofício, encontrou uma forma de praticar o jornalismo de maneira investigativa, virando-o do avesso. “Minha jornada diária começa com duas horas de leitura na internet, leio 35 jornais do mundo inteiro”, disse Jaar a Istoé. “Me interessa muito como são comentadas as imagens, os eventos, a história, segundo diferentes pontos de vista ideológicos”. Em sua leitura rigorosa e sistemática, Jaar pratica a seleção e a indexação da informação consumida. “Sigo as tragédias, os grandes eventos políticos”. O objetivo: transformar essa informação em instalações e videoinstalações que funcionem “modelos de pensar o mundo”. Quatro delas estão em exibição na galeria Luisa Strina, em São Paulo, na mostra “The Politics of Images” (A Política das Imagens). O título da exposição afirma que as imagens não são inocentes.

A lente de Jaar recai particularmente sobre a fotografia. “No colégio, ninguém nos ensina a ver imagens. Nos ensinam a ler palavras, textos, vocabulário. Mas ninguém nos ensina a ver e a entender imagens. Imagens são fundamentais, tudo o que sabemos do mundo, aprendemos com imagens. Cada uma contém uma concepção ideológica do mundo, te diz que compre este produto, ou compre esta ideia. Portanto, temos que criar modelos para compreender uma imagem”.

Os “modelos” aqui exibidos denunciam o racismo presente nos meios de comunicação norte-americanos. Residente em Nova York há 35 anos, Jaar criou “Searching for África in Life” a partir dessa observação. A obra mostra as 2500 capas da revista Life publicadas entre 1936 e 1996. “Se você procura a presença da África, vai encontrar somente 5 capas, todas elas mostrando animais. Como se não houvesse arte, arquitetura, ciência… nada mais”. A obra “From Time to Time” (2006) obedece ao mesmo sistema de leitura. “Sei que o Brasil tem um problema sério de racismo e espero que as pessoas, quando vejam esses trabalhos, pensem nos meios de comunicação brasileiros”, sugere.

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Como um circuito de lições para aprender a ler as imagens, a mostra começa com a instalação “The Sound of Silence” (2006), definida pelo artista como “um teatro construído para uma só imagem”. A obra é uma experiência criada em torno de uma foto tirada pelo jornalista africano Kevin Carter, no Sudão, em 1993. Alfredo Jaar fecha o ciclo com uma obra criada especialmente para o Brasil: um neon com a frase “Volta, Andrade”, uma homenagem a Oswald de Andrade, ao manifesto antropófago. “Acho Oswald de Andrade extraordinário, brilhante no modo que analisa as relações entre nossos países e os colonizadores. Ele propôs que, na relação com os ‘outros’, os europeus, devemos roubar tudo. Sem complexos, sem tabus, assumir nossa origem indígena, nossa raça e fazer algo melhor”.

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Roteiros

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J. Carlos: o poder da imagem

J. CARLOS: ORIGINAIS/Galeria Marc Ferrez, Instituto Moreira Salles, RJ/ até 22/10

É possível dividir a imprensa em dois tempos: antes e depois de J. Carlos. José Carlos de Brito e Cunha (1884-1950) foi um dos mais ativos e prolixos cronista visuais que o Brasil já conheceu. Começou em 1902, no jornal O Tagarela, quando a imprensa brasileira era composta quase exclusivamente de textos e a crônica visual era feita à mão, com tímidas aparições fotográficas. Em 48 anos de carreira, J. Carlos produziu mais de 50 mil desenhos, entre caricaturas, charges, cartuns, alfabetos tipográficos, propagandas e muitas capas de revista. Não fez nada que não tenha sido publicado. Portanto, pode-se contar a história da imprensa a partir de seu traço elegante e sagaz, que reúne as qualidades de designer e jornalista.

“Mas até 1995 ele foi ignorado, porque isso é da natureza da imprensa. No dia seguinte, você embrulha o peixe com o jornal e joga fora”, afirmou à Istoé o cartunista Cássio Loredano, responsável por trazer à luz a obra de J. Carlos. Autor de seis livros sobre o desenhista, Loredano encontrou um acervo de desenhos na casa de seu filho, em Petrópolis, em 1995. “Mas ele deve ter deixado em casa no máximo 3 mil desenhos de um escopo de 50 mil”, diz Loredano. A coleção de Eduardo Augusto de Brito e Cunha foi cedida em comodato ao Instituto Moreira Salles e, desde 2015, é cuidada pela área de iconografia. Hoje, 290 desenhos dessa coleção integram a mostra “J. Carlos: Originais”, no IMS. A exposição tem curadoria de Loredano, de Julia Kovensky, coordenadora do setor de iconografia do IMS, e de Paulo Roberto Pires, editor da revista Serrote.

A seleção expressa o grande arco de abrangência de sua obra: da crônica de costumes ao comentário político. Seus dois traços fortes eram a revista semanal de informação política e a revista destinada ao público feminino. Nem Walt Disney escapou à sua pena. “Não sei se o Disney, quando esteve no Brasil, viu os Mickeys feitos por J. Carlos”, diz Loredano. “Mas uma das maiores histórias em torno dele é que o Disney levou o papagaio de J. Carlos para criar o Zé Carioca”. PA


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