Se fosse preciso escolher uma única palavra para descrever o estado de espírito dos brasileiros, esta palavra poderia ser “desencanto”. Convenhamos: 2016 foi um inferno. Faça um exercício rápido e enumere coisas bacanas que aconteceram neste ano. Difícil, não? Agora tente o mesmo no sentido oposto e, vamos lá, rememore os fatos ruins. Provavelmente você
se cansará de tanta amargura. As pessoas só falam de desgraças, inclusive o autor deste texto. Chame aquele parente sensato e inteligente e o sujeito dirá que está tudo uma porcaria. Converse com o pessoal do trabalho, seu chefe, seu subordinado, seus iguais, e todos só tratarão de uma coisa: o lixo onde nós chafurdamos. O País quebrou, todos gritam. A corrupção arruinou nossas esperanças. Os empregos sumiram. Os investimentos foram para longe e talvez nunca mais darão as caras por aqui. A violência urbana não cessa. Em breve afundaremos no lodaçal brasileiro, e não há a mais remota chance de escaparmos do turbilhão de males que nos sufoca diariamente.

Está chato viver no Brasil. Quem suporta o martírio sem fim? Há pelo menos 3 anos os brasileiros são açoitados por um rosário de notícias negativas. Elas existem, elas são reais, elas precisam ser escancaradas, mas será que nossas vidas se resumem a apenas isso? Desconfio que todos nós, eu, você e até o inimigo que pode estar agora ao seu lado, tenhamos algo mais a oferecer ao mundo do que apenas lamúrias.

É claro que nossas preocupações são legítimas, como também é óbvio que não dá para ignorar o que nos maltrata. Não é disso que estou falando. O que quero dizer, e peço desculpas pela pretensão, é que a vida tem nuances. Muitas vezes fazemos das insignificâncias do dia a dia nossa única razão para levantar cedo e encarar aquele mundo triste e cruel que nos espera porta afora.

É preciso ser um idiota para não reconhecer que nossas aflições são verdadeiras, mas é preciso ser mais tonto ainda para não admitir que gastamos um tempo danado com coisinhas.Você perdeu quase tudo e um pouco mais? Beleza, vamos agora
em frente. Sofreu o diabo em 2016? Ok, é hora de começar outro jogo. Desculpe a obviedade, mas a questão é a seguinte: o passado, lembre-se, ficou para trás. Passou. Não fique aí prostrado na cadeira amaldiçoando o mundo. Levante. Você consegue.

“Você perdeu quase tudo? Beleza, vamos em frente. Sofreu o diabo em 2016? Ok, é hora de começar outro jogo”