Vídeos de sexo filmados secretamente pelos russos para exercer pressão sobre o futuro presidente dos Estados Unidos: as informações americanas não confirmadas mais parecem um filme de espionagem, mas referem-se a práticas utilizadas por todos os serviços secretos, elevadas a uma forma de arte pelos russos.

Vários meios de comunicação americanos publicaram informações segundo as quais líderes da inteligência americana informaram Donald Trump da existência de arquivos comprometedores que teriam sido recolhidos durante anos pela Rússia para fins de chantagens.

A imprensa cita, entre outras coisas, um suposto vídeo sexual envolvendo prostitutas, secretamente filmado durante uma visita do bilionário a Moscou em 2013 pelos serviços russos.

Se nada permite confirmar estas informações, a inteligência americana credita serem credíveis. O Kremlin, no entanto, rejeita categoricamente estas acusações.

Este episódio lembra o “kompromat” ou “caso comprometedor” em russo, uma tática usada por todos os serviços secretos, incluindo pela KGB na época soviética. O envolvimento de uma autoridade ocidental por uma bela russa tornou-se um clichê, um estereótipo, um pré-requisito do romance ou filme de espionagem.

Após a queda da União Soviética, em meio ao caos da década de 1990, o “kompromat” tornou-se uma importante ferramenta para campanhas para desacreditar políticos, empresários ou autoridades.

“Todos os serviços secretos do mundo fazem isso, e não somos uma exceção”, admite o especialista Mikhaïl Lioubimov, que por muito tempo conduziu as operações da KGB contra o Reino Unido e os países escandinavos.

Chantagem: tão antiga quanto o amor

Fotografado com um parceiro do mesmo sexo quando a homossexualidade era proibida no Reino Unido, John Vassall, adido naval britânico em Moscou de 1954 a 1956, foi forçado a se tornar um dos mais famosos espiões da KGB na Grã-Bretanha.

Seu compatriota John Profumo, ministro da Guerra, caiu em 1963 em uma armadilha semelhante: relacionou-se com uma jovem de 19 anos, também amante de um funcionário do alto escalão soviético em Londres.

Em 1964 foi a vez do embaixador francês, Maurice Dejean, de pagar o preço: agentes da KGB filmaram o homem casado com uma jovem atriz russa, fazendo com que o general de Gaulle o convocasse de volta a Paris.

Mais recentemente, em 2009, um diplomata britânico na Rússia renunciou após a publicação na internet de um vídeo mostrando-o com duas prostitutas.

“A chantagem por meio de relacionamentos românticos é tão antiga quanto o próprio amor”, diz Lyubimov.

Ferramenta perigosa 

Mas as principais vítimas desta tática são, desde a Guerra Fria, os próprios russos. A “guerra dos kompromat” se alastrou principalmente no início de 1990, quando os oligarcas russos lutavam entre si pelo controle de grandes empresas, e usavam seus impérios de mídia para lançar as piores acusações.

Na Primavera de 1999, o procurador-geral Yuri Skuratov foi derrubado: a televisão transmitiu um vídeo, cuja autenticidade nunca foi comprovada, no qual aparece com prostitutas, que uma terceira pessoa teria pago.

E em 2010, uma certa “Katia” seduziu vários opositores do Kremlin e filmou suas travessuras sexuais para então transmiti-las online. Por sua vez, canais de televisão pró-Kremlin, tais como NTV ou LifeNews, não hesitam em recolher por conta própria os “kompromat” contra adversários, usando escutas e câmeras escondidas.

Mas, Mikhail Lyubimov adverte: “o ‘kompromat’ é uma espécie de bumerangue”.

“Ninguém pode viver por muito tempo sob a ameaça do ‘kompromat’: em um momento, a vítima não aguenta mais o que pode levá-la a gradualmente se tornar um inimigo”, disse o ex-espião. “Esta é uma ferramenta perigosa.”