Quatro crimes, quatro sentenças – e uma perturbadora realidade.
A minissérie “Justiça”, exibida pela TV Globo desde a semana passada, trata o tema que traz no título de forma tão engenhosa quanto desconcertante. Na trama escrita por Manuela Dias (também autora de “Ligações Perigosas”, exibida pela mesma emissora em janeiro), dois homens e duas mulheres são condenados a sete anos de prisão por crimes cometidos no Recife no mesmo dia, 28 de junho de 2009. Em cada um dos quatro episódios que vão ao ar toda semana, a história de um dos personagens é esmiuçada. Embora pareçam pertencer a mundos distintos, suas vidas se entrelaçam em diversas camadas, mostrando sutis conexões que transcendem o breve período no qual compartilham a sala de espera da delegacia onde os acusados sentam-se lado a lado enquanto aguardam a vez de serem fichados. Inocentes ou não, eles evidenciam aspectos da sociedade brasileira que obrigam o telespectador a refletir sobre o que é justo – legal e moralmente – e como isso pode variar. Não por acaso, a famosa frase de Ortega y Gasset (“Eu sou eu e minhas circustâncias”) é citada já no primeiro episódio.
A trama tem início com a personagem Elisa (em ótima atuação de Debora Bloch) praticando tiro ao alvo. Em seguida ela revela ao namorado a intenção de matar o homem que tirou a vida de sua filha, Isabela, sete anos antes. A cena se passa na véspera do dia em que o assassino, Vicente (Jesuíta Barbosa), sairá da prisão. Incapaz de superar a perda de Isabela (interpretada por Marina Ruy Barbosa), Elisa está convencida de que a sentença foi muito branda para seu algoz. Mesmo reconhecendo que matá-lo não trará a filha de volta, ela se justifica: só a certeza de que ele não estará mais vivo poderá deixá-la em paz. “Você não quer justiça, quer vingança”, diz Heitor (Cássio Gabus Mendes), o namorado a quem Elisa revelara seu plano. Pode a vingança ser uma forma de justiça?

FALSO FLAGRANTE

os-condenadosBem diferente é o drama vivido pela doméstica Fátima (Adriana Esteves), que trabalha na casa de Elisa. Seu marido, motorista de ônibus, está internado na UTI depois de ter sido esfaqueado numa briga, por um colega que o acusava de fura-greve. Sozinha, com um casal de filhos pequenos para cuidar e às voltas com vizinhos encrenqueiros (um policial e uma prostituta), Fátima perde a cabeça quando seu caçula é mordido pelo cão do casal que mora ao lado. Ela então pega uma arma e dispara contra o animal que já havia causado vários transtornos à sua família. Não contente em denunciá-la pela morte do cachorro, o PM arma um falso flagrante de cocaína para que Fátima seja sentenciada como traficante. Ela é condenada a sete anos por um crime que não cometeu.

Assim como nesses dois casos, narrados nos primeiros capítulos de “Justiça”, também nas histórias que completam a trama, envolvendo drogas, racismo e eutanásia, o objetivo não é denunciar injustiças do sistema prisional brasileiro. Ainda que questione o modelo penal vigente no País, apoiado na tradição romana de reabilitação de criminosos por meio do cumprimento da pena imposta pela lei, a minissérie não se prende aos aspectos jurídicos. Dirigida em tom realista por José Luiz Villamarim (de “Amores Roubados”), a trama deixa uma mensagem clara: seja qual for a compreensão individual do que é justo, cada um de nós pode ser afetado pelo que o outro entende como justiça.

CAMPEÃ DE AUDIÊNCIA - Uma das cenas quentes com Marina Ruy Barbosa: Ibope registrou 32 pontos
CAMPEÃ DE AUDIÊNCIA – Uma das cenas quentes com Marina Ruy Barbosa: Ibope registrou 32 pontos

A estratégia da TV Globo de promover “Justiça” nas redes sociais ganhou uma mãozinha da atriz Marina Ruy Barbosa. Já na estreia, a sedutora personagem Isabela protagonizou duas cenas de sexo, com dois parceiros: primeiro com o noivo Vicente (Jesuíta Brabosa) e depois com o ex-namorado Otto (Pedro Lamin). As imagens de nudez dominaram as redes sociais enquanto o episódio era exibido – a ponto de o nome da atriz entrar para a lista de assuntos mais comentados do Twitter na semana passada. “Foi muito desafiante para mim e é uma série que mexe com a gente”, disse Marina. A audiência registrou média de 30 pontos no Ibope em São Paulo e 32 no Rio, número excelente para o horário. A emissora anunciou que sua personagem reaparecerá na trama, apesar de ter sido assassinada no primeiro capítulo, quando o noivo a flagra transando com o ex no chuveiro.