A sétima queda consecutiva da Selic, a taxa básica de juros, na quarta-feira 26, confirmou a expectativa do mercado financeiro de que o Banco Central manteria o ritmo de redução de um ponto percentual verificado na última reunião, em maio. Pela primeira vez desde 2013, a Selic ficou abaixo de 10% – ela agora está em 9,25%. Com a redução, o Brasil passou do segundo para o terceiro lugar no ranking mundial de juros reais. Para o consumidor, o crédito continua pouco acessível. Um dia depois da redução na Selic, o juro rotativo do cartão de crédito, aquele cobrado sobre o valor que o cliente não paga no vencimento da fatura, voltou a subir: está em 378% ao ano, muito acima do praticado em outros países da América Latina.

Por que o consumidor brasileiro não é beneficiado pelos efeitos das sucessivas quedas na taxa básica de juros? “Quando se trata dos juros finais cobrados ao consumidor, a Selic é importante, mas uma grande parte vem do spread bancário (diferença entre quanto o banco paga ao tomar empréstimo e o quanto ele cobra do consumidor na operação de crédito)”, afirma Yan Cattani, economista da Boa Vista SCPC. O cálculo do spread é baseado, entre outras coisas, no índice de inadimplência – quanto mais alto o risco do consumidor se tornar inadimplente, maiores os spreads bancários e, portanto, maiores as taxas de juros finais. O risco de inadimplência também torna mais difícil o acesso ao crédito. Mesmo quem não está negativado vem sentindo dificuldade na hora de aprovação. “É a sensação de crise: mesmo com a taxa básica em queda, o banco vai ser mais austero para conceder crédito”, diz Cattani. É verdade que a inadimplência vem caindo – na avaliação acumulada em 12 meses, houve retração de 3,1% em junho deste ano -, em grande parte pela menor demanda por crédito. “O consumidor está mais cauteloso do que antigamente”, afirma o economista. “Antes a gente observava grandes concessões de crédito que incorriam em inadimplência, mas agora é diferente”.

CRESCIMENTO

Para as empresas, o cenário é outro. O corte de juros é sentido mais rapidamente, já que elas têm maior capacidade de pagamento. É com isso que conta o governo para aquecer a economia do País. “Com melhores condições de investimento, as empresas devem aumentam produtividade, reocupar sua capacidade ociosa, manter os trabalhadores a pleno emprego e criar novas vagas”, afirma Paulo Azevedo, professor de estratégia financeira do Ibmec-SP. Um resultado que é bom para todos, afinal.