As prisões em massa na Turquia, onde mais de mil supostos partidários do clérigo Fethullah Gülen foram detidos nesta quarta-feira, mostra que “todo o país está em estado de detenção”, considerou em Bruxelas o jornalista turco no exílio, Can Dündar.

Cerca de 1.120 pessoas suspeitas de fazer parte da rede de Gülen, a quem o governo turco acusa de conspirar uma tentativa de golpe de Estado em julho, foram presas nesta quarta-feira pela manhã em todo o país, segundo a agência de notícias do governo Anadolu.

Erdogan utiliza a tentativa golpista “como uma desculpa e uma chance para reforçar seu poder”. “É o motivo pelo qual todo o país está em estado de detenção, não só seus opositores”, considerou Dündar em uma entrevista à AFP.

O ex-redator-chefe do jornal turco opositor Cumhuriyet pediu aos dirigentes da União Europeia (UE) que não “sacrifiquem” seus ideais em suas relações com o presidente Erdogan, lamentando as “sujas” negociações que desembocaram em um acordo migratório entre a UE e a Turquia em março de 2016.

“A Europa perdeu a oportunidade de influenciar na Turquia porque […] após o acordo migratório, deram muito apoio a esse governo apenas para deter os refugiados que chegam a solo europeu e retê-los na Turquia”, criticou Dündar.

Na relação coma Turquia, “vocês devem mencionar a importância da liberdade de imprensa, da democracia, dos direitos humanos […] mas, lamentavelmente, nenhum dirigente europeu fez isso”, acrescentou.

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“Esse é o principal problema e eu gostaria de dizer: se agarrem aos seus princípios e não os sacrifiquem!”, acrescentou este jornalista, considerado pelas autoridades como um traidor por ter revelado em 2015 que os serviços secretos turcos entregaram armas aos islamistas na Síria.

Por isso, a justiça turca o condenou em maio de 2016 a cinco anos e 10 meses de prisão. Após sua liberação em um julgamento de apelação, durante o qual pediram contra ele 10 anos adicionais de prisão, Can Dündar se exilou na Alemanha.


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