05/05/2017 - 18:00
Presidente da Comissão que discute a reforma política, o deputado Lucio Vieira Lima (PMDB-BA) escancara em entrevista à ISTOÉ como pensam os representantes do povo, quais suas preocupações durante a elaboração de um texto tão importante para o País e aponta as prioridades dos governantes na hora de promover uma revisão do sistema político. Irmão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, afastado do governo federal por suspeitas de tráfico de influência, Lucio diz que se o prefeito de São Paulo, João Doria, não tiver espaço para concorrer à Presidência da República pelo PSDB, encontrará abrigo no PMDB. Lucio defende também que a classe política encontre novas fontes de financiamento das campanhas políticas. “Sem reforma política vamos tirar dinheiro de onde? Do banco imobiliário? Como fazer eleição se não existe almoço de graça?”.
O PMDB vai lançar candidato à presidência da República no ano que vem?
Se não houver caminhos para o prefeito de São Paulo, João Doria, concorrer à Presidência da República pelo PSDB em 2018, ele teria espaço no PMDB?
Não só. Estamos vendo na Câmara quase 30 partidos com assento na Casa. Como identificar as bandeiras de todos esses partidos? Hoje, se perguntar qual é a bandeira do PMDB não se sabe, do PT não se sabe, do PSDB também não. A Lava Jato também influencia, mas ela é uma consequência do sistema atual.
Já que existe esse diagnóstico dentro do PMDB, quando essa mudança começará a acontecer na prática?
Esse poder do eleitor de “julgar” o candidato por meio do voto não será enfraquecido com a idéia discutida na comissão da reforma política de votação em lista fechada?
Equivocado como?
Não. Estamos falando do fortalecimento dos partidos políticos. Não é correto fulanizar as eleições. Quando você votar em um candidato daquele partido, você saberá como é que ele vai representar as idéias. No Congresso, tem gente que acaba votando de determinado jeito se tiver um cargo no governo, ou se o executivo liberar uma emenda, isso não é bom para a democracia.
Uma das críticas ao voto em lista fechada é a perpetuação dos caciques dos partidos e dos congressistas previamente incluídos nessa listagem. O modelo também abre brecha para um candidato rico comprar sua vaga.
Os coronéis de partidos, ou o que tem de ruim aí é fruto do sistema atual. Se temos que culpar alguém, temos que culpar o sistema atual e não o que vai vir. Sim, mas o sistema que virá pode enfraquecer ou fortalecer a ação dos coronéis. Eu volto a dizer, a mudança maior é feita na sociedade. Acabou-se o tempo aqui na Casa que você tinha lideranças que chegavam aqui com 20 votos, bastava dar um ministério e ele resolvia todo o grupo. Hoje, cada deputado quer pleitear um cargo, não é mais aquele coronel que será o tutor de um grupo de parlamentares. E quando você me diz, “ah, um coronel que for rico vai comprar sua vaga na lista e vai corromper”. Mas para ele corromper, tem que ter o corrupto.
E a Câmara vai insistir na anistia ao caixa dois?
Não tem anistia ao caixa 2.
Vou mudar minha pergunta. O eleitor que elegeu esse Congresso como seu representante gostaria que o caixa dois fosse criminalizado?
Perguntei se a população queria a criminalização do caixa dois e o senhor acabou de dizer que “é claro que quer”.
Certo, mas de que forma ela quer? A população não quer dinheiro público no fundo partidário, então como é que ela quer que façamos o combate à corrupção? E se não tiver dinheiro de empresa, nem de financiamento pessoal, nem público, quem vai financiar? O narcotráfico! Teremos aqui traficantes e sequestradores. Vamos fazer a campanha como, de jegue?
Essa reforma política tem muita coisa estranha. Como o candidato ser votado sem saber exatamente para qual cargo.
A proposta é que ele pode ser candidato a um cargo majoritário, como presidente ou governador, e também fazer parte da lista. Os defensores da ideia dizem que é para elevar o nível do Congresso, porque tem um quadro teoricamente mais preparado. E, como é só uma vaga, você pode perder a eleição no Estado e vir para o Congresso. Os críticos chamam de “emenda Lula”. E, de fato, se o Lula concorrer à presidência, teríamos uma enxurrada de deputados do PT entrando. Os dois lados têm razão.
A reforma, como está sendo encaminhada, vai representar o desejo da população ou representará só o desejo pessoal do parlamentar?
Algum desejo vai, porque é votada por parlamentares. E quem votar pelos seus próprios interesses certamente não retornará, pois não terá o voto daqueles que ele dizia representar e não representou.
De repente ele pode voltar ao Congresso com a ajuda do voto em lista fechada, por exemplo.
O julgamento de um político não é feito pelo povo nas urnas? Então se ele foi reeleito com uma ampla votação, que culpa tem?
A culpa vai ser de quem o elegeu. Vamos deixar isso claro, sobre a responsabilidade do eleitor. Ninguém está aqui sem voto. Aí você diz: “Mas eles não dizem que vão fazer isso quando pedem o voto”. E aí eu lhe pergunto: “Você diz que tem gente que está citado, investigado, mas está aqui há vários quantos mandatos. E por que está aqui?”
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) é réu, tem mais de dez inquéritos e está no terceiro mandato só como senador.