Em meio ao clima de certa euforia que tomou parte dos integrantes da cúpula do Palácio do Planalto após os últimos resultados da criação de postos de trabalho e dos leilões de aeroportos, o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Tasso Jereissati (PSDB-CE), considera que ainda é cedo para se falar em retomada da economia. O tucano assumiu nesta semana o comando da CAE, colegiado responsável por colocar em discussões, no Senado, as principais matérias de interesse do Palácio do Planalto para a retomada do crescimento.

“A retomada para valer, na vida real, eu acho que é cedo afirmar. Mas o leilão dos aeroportos significa um sinal de confiança muito grande do investidor estrangeiro com relação ao futuro próximo da economia do Brasil. E pela primeira vez, em dois anos, o número do Caged apresentar positivo, essa é uma notícia excepcional. Mas é claro que para nos tranquilizar, precisamos ver se esse número se repete ao longo dos próximos meses. Não voltamos a crescer. Nós paramos de cair”, afirmou o senador ao jornal “O Estado de S. Paulo”.

As declarações realizadas nesta sexta-feira, 17, ocorreram um dia após o presidente Michel Temer anunciar que no último mês de fevereiro foram criadas 35.612 vagas de emprego formal. O dado representa o primeiro resultado positivo após 22 meses seguidos com queda do número de empregos formais – desde março de 2015. No mesmo dia, o governo conseguiu arrecadar R$ 3,72 bilhões com leilão dos aeroportos de Fortaleza (CE), Salvador (BA), Florianópolis (SC) e Porto Alegre (RS).

Apesar dos primeiros números positivos, ao falar sobre o cenário dos próximos meses, o tucano considerou que não está descartada a possibilidade de o governo ter de recorrer ao aumento de impostos para fechar as contas. Nos cálculos de Jereissati está a previsão de contingenciamento do Orçamento da União e a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que entendeu que o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) não integra a base de cálculo das contribuições para o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins).

“Tem dois fatos que nos fazem prestar muita atenção e ter cautela. Alguns levantamentos já indicam claramente que será preciso contingenciar cerca de R$ 40 bilhões. Isso é um problema que vamos ter de enfrentar”, considerou. “Outro fato é a decisão do Supremo. Se ela recair para este ano, também vamos ter mais um furo grande no Orçamento. Vamos supor que essas duas hipóteses se confirmem, dai talvez tenhamos de estudar a possibilidade de troca de um imposto por outro, ou de alguma atitude mais séria”, emendou.

Reforma

Ao tratar das reformas encaminhadas pelo governo ao Congresso Nacional, o senador considerou como errada a estratégia de tratar de dois temas polêmicos ao mesmo tempo. “Acho que não é bom colocar a trabalhista e previdenciária no mesmo ponto. Acho que alguns pontos da CLT podem ser modificados sem necessariamente fazer, neste momento, uma reforma de toda a CLT. E acho que ela não é adequada, neste momento. Temos que focar na questão da Previdência e não dá para fazer tudo que é ideal ao mesmo tempo”, afirmou.

Para ele, o governo também tem perdido no diálogo com a sociedade quando trata da reforma da Previdência. “Na comunicação com a sociedade estamos perdendo essa guerra. A gente percebe, com alguma clareza, que grande parte da população não está entendendo o que vai significar essa reforma, a necessidade dela… tenho a convicção que isso precisa ser feito já, porque o clima que está se criando está muito mais para negativo do que para positivo.”