A voz frágil de Jeff Tweedy, embalada ora por guitarras, ora por violões tipicamente country, é parceira ideal para os momentos de fossa. Com o Wilco, ele canta versos melancólicos sobre o fim, recomeço, saudade, ausências. Na vida real, o líder do grupo que volta ao Brasil após 11 anos para três apresentações não é nada disso. Diverte-se, inclusive, com esse personagem que criam sobre ele: “Sou bem menos interessante do que imaginam”.

Li que as canções de Schmilco, o disco mais recente de vocês, foram criadas na mesma época do que as músicas do Star Wars (2014). Por que lançar dois discos em vez de um?

Isso já fazia parte do nosso plano. Nossos discos sempre tinham essa variedade, esses rocks barulhentos e canções mais calmas e acústicas. Fizemos muito disso. Dessa vez, quisemos separar essas canções, um pacote para cada lado. As barulhentas ficaram com o Star Wars e as mais calmas com o Schmilco.

Como um álbum duplo?

Se tivéssemos reunido as canções mais barulhentas com as acústicas em um só disco, ele soaria como o The Whole Love (disco de 2011). Foi mais satisfatório manter essa atmosfera.

Curiosamente, a música mais barulhenta de Schmilco, Locator, foi a primeira a ser lançada.

Sim. Não queríamos que as pessoas criassem uma ideia preconcebida do disco. Queremos sempre que as pessoas ouçam nosso disco como se fosse uma nova banda.

É revigorante artisticamente?

Nosso objetivo é sempre lançar um disco que ninguém tenha lançado, seja o Wilco ou qualquer outra banda.

Star Wars, o disco, saiu no mesmo ano que o novo longa da saga Star Wars, em 2015. Você realmente não sabia do filme?

Talvez alguma parte do meu cérebro pudesse saber, mas não foi consciente. É um título que me parece bonito e, ao mesmo tempo, desorientador.

Em três anos, você lançou três discos – dois com o Wilco e um com o projeto Tweedy (no qual você toca com o filho). A que se deve essa fase criativa?

Minha esposa teve essa doença (um tipo raro de linfoma) e acabei passando mais tempo em casa, para cuidar dela. Nos 20 anos de Wilco, nunca tinha ficado tanto tempo em casa. Isso me proporcionou mais oportunidades para ir para o estúdio que tenho em casa. Era uma boa chance de pensar em novas canções. Tenho mais material para lançar. E, emocionalmente, estou bem, já que ela se recuperou.

Vem mais um disco por aí?

Tenho gravado sozinho e com meu filho (Spencer, com quem ele lançou o disco Sukierae, em 2014). O irmão dele, Sam (de 16 anos), também está interessado em tocar conosco. De qualquer forma, acabamos de lançar o Schmilco e estou feliz em executar essas canções.

As pessoas imaginam que você seja alguém melancólico, como nas canções. Como lidar com essa expectativa?

É difícil ouvir alguém cantando e não pensar que a pessoa está falando dela – em vez de um personagem. E acho que as pessoas se encontram nas minhas músicas porque deixo espaço para elas entrarem. Não posso ser tudo o que projetam de mim, ao mesmo tempo fico feliz que as pessoas me vejam dessa forma. A verdade é que sou bem menos interessante do que as pessoas imaginam.

POPLOAD FESTIVAL

Urban Stage. R. Voluntários da Pátria, 498. Sáb. 8/10, 15h (abertura dos portões). R$ 300 a R$ 500.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.