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Todo mundo sabe que durante uma década o Ford EcoSport reinou sozinho no mercado brasileiro de SUVs/crossovers compactos e blá-blá-blá. E que tudo mudou quando o Honda HR-V e o Jeep Renegade chegaram ao mercado, em fevereiro e abril de 2015, respectivamente.

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Passado cerca de um ano e meio, a disputa por esse mercado segue feroz, mas agora só entre o HR-V e o Renegade.

Só? Não exatamente, se foram considerados outros países. Porém, antes de analisarmos mais três grandes mercados (Europa, Estados Unidos e China), vamos ver como andam as coisas aqui no Brasil.

De janeiro de 2015 para cá, o EcoSport só foi líder em três meses: justamente o trimestre que antecedeu as vendas do HR-V (janeiro, fevereiro e março). Depois disso foi um banho do crossover da Honda até setembro, com seis meses seguidos na liderança. Porém, de outubro/2015 a janeiro/2016, a liderança ficou quatro meses seguidos nas mãos do Renegade.

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No total do ano, o HR-V terminou em primeiro lugar, com 51.154 vendas. O Renegade tirou do EcoSport até a vice-liderança: vendeu 39.208 unidades, contra 33.860 do ex-queridinho dos brasileiros. Que significam esses números? Marca.

Posicionamento. Branding. A força da marca Honda simplesmente atropelou o modelo da Ford. Em seguida, o posicionamento da Jeep colocou seu carro à frente do novo líder. Depois, a Jeep relaxou. Achou que já tinha feito a lição de casa em termos de branding e simplesmente abandonou o Renegade à própria sorte nos meses de janeiro e fevereiro. Sumiu do mapa. Não fez anúncio nenhum.

Esses dois meses foram fundamentais para dar uma lição à Jeep. Branding é uma ação constante. A marca não tem um décimo da força que a Honda tem no Brasil. Sua tradição remonta aos anos 60/70 do século passado. Jeep ainda é (ou era) uma incógnita para muitos brasileiros. A Honda se aproveitou e o HR-V voltou a liderar o mercado por mais cinco meses seguidos (fevereiro a junho).

Somente em julho, depois de muito batalhar, o Renegade voltou à liderança, mas perdeu-a novamente em agosto. Em setembro, considerando 15 dias de vendas, o HR-V tem 1.759 emplacamentos e o Renegade soma 1.554. No total, desde que foram lançados, o Honda HR-V vendeu 93.024 unidades no Brasil. O Jeep Renegade chegou aos 75.687. É uma diferença enorme para um carro que merecia vender mais. Merecia? Sim, merecia. E eu digo o porquê.

O Renegade tem muito mais alma e carisma do que o HR-V. É um carro muito mais emocional. Sua posição de dirigir é mais elevada. Ele é mais valente. Seu visual é único (enquanto o HR-V é só um crossover bonito entre tantos, mais parece um hatch elevado). O Renegade tem opção de motor a diesel. O HR-V, não. O Jeep tem tração 4×4. O Honda, não. O modelo da Jeep tem suspensões e construção mais adequadas para enfrentar os buracos das ruas e estradas brasileiras. Tem três opções de câmbio (uma manual de cinco marchas e duas automáticas, de seis e de nove velocidades). O HR-V tem um câmbio manual de seis marchas e a transmissão CVT, que não tem marchas. O mesmo vale para o Nissan Kicks. Com a desvantagem de ter um motor ainda mais fraco do que do Renegade. Quanto ao EcoSport, tem tração 4×4 e tradição. Porém, precisa ser repensado em termos de design, por dentro e por fora.

Por tudo isso, se me perguntam, eu digo com provas e convicção: entre esses carros, eu compraria um Renegade.Mas eu não sou o consumidor padrão. Nem do Brasil nem do mundo. Por isso, o HR-V conquista o brasileiro por ter um motor flex muito mais potente. Por ser mais econômico com essa configuração. Por ser mais carro e menos “jipe”. Por ser muito mais estável quando você tem que fazer curvas em alta velocidade. Por ser um Honda, que tem a fama de não quebrar. E principalmente por ter um porta-malas de verdade, coisa que seu rival não tem.

Mas, ora, se você quer um carro com essas características, por que comprar um crossover? Não seria um hatch, um sedã ou uma perua muito mais interessante? Para mim, que gosto de carros e não abro mão da compra emocional, estou pouco ligando se o carro tem porta-malas ou não. Por acaso o Volkswagen Fusca tinha porta-malas? Por acaso o Porsche 911 tem porta-malas?

Na guerra da emoção versus razão, o Jeep Renegade, o Honda HR-V e até o Ford EcoSport travam uma pendenga mundial. Na Europa, onde a força da marca Honda não é tão forte, o Renegade vendeu 46.218 carros no primeiro semestre deste ano, seguido do EcoSport, com 35.144. O HR-V emplacou apenas 21.009. Em 14 meses de venda, desde sua estreia, só teve um mês robusto (abril).

Na China, por ser um país da Ásia, a coisa é bem diferente. Lá o japonês HR-V chama-se Vezel e dá um banho de vendas. Emplacou 126.838 unidades no ano passado, contra 49.465 do EcoSport. Esse ano, o show é ainda maior: em seis meses, já vendeu 89.322 carros. O EcoSport (que é produzido na Tailândia) teve problemas de distribuição e só vendeu 18.305. O Renegade acaba de ser lançado, emplacando 1.678 unidades em julho. Não é ruim, pois o Vezel estreou vendendo 1.209 em outubro de 2014. Mas lá a Jeep com certeza não pegará a Honda.

Nos Estados Unidos, o panorama é ainda mais complexo. O Renegade joga na casa da Jeep e lidera as vendas até agosto com 70.475 licenciamentos. Mas a Honda é forte: já emplacou 47.240 unidades do HR-V. Um bom resultado para quem joga no campo do adversário. Quanto à Ford, nem se deu ao trabalho de lançar o EcoSport por lá. O crossover mais acessível da marca que inventou a linha de produção é o Escape (derivado do Focus, portanto muito maior), com estonteantes 306.492 vendas no ano passado e 209.699 no acumulado de janeiro a agosto desta temporada.

Voltando ao Brasil, as cartas estão na mesa. O desempenho de vendas do Honda HR-V – um carro bonito, admirado e confiável, diga-se – mostra que a Jeep ainda precisa batalhar bastante para impor seus valores e levar o Renegade à liderança da categoria de SUVs/crossovers. Este ano não dá mais. A diferença a favor do HR-V é de 5.391 e faltam apenas três meses e meio para terminar a temporada.


Mas no ano que vem tudo pode mudar. Teremos a chegada forte do Nissan Kicks ao mercado e tudo indica que ele tem mais chances de roubar vendas do HR-V do que do Renegade, devido à semelhança entre os dois carros japoneses. Se eu fosse fazer uma aposta hoje, diria que 2017 será o ano do Jeep Renegade. Quem duvida?


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