Há aproximadamente três anos, o Brasil vive uma adaptação tupiniquim da Revolução Francesa. Nesse período de Terror, o governo revolucionário é exercido por operadores da Justiça que, a cada dia, decidem quem deve ser guilhotinado. E se aqui há alguns personagens reencarnados, o procurador-geral Rodrigo Janot talvez seja um Maximilien de Robespierre redivivo. Nos últimos dias, Janot distribuiu flechadas com a mesmo gana com que Robespierre, que era conhecido como o Incorruptível”, escolhia os seus inimigos da revolução. Numa aparente demonstração de isenção, Janot apresentou denúncias contra os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, do PT, depois de ter pedido a prisão do senador Aécio Neves, do PSDB, e de também ter denunciado Michel Temer, do PMDB.

Janot pretendia sair de cena fiel à sua máxima de que “pau que bate em Chico também bate em Francisco”. Ou talvez tenha seguido a cartilha “nu dêis (no deles) é bom”, revelada pelo ex-amigo Eugênio Aragão, que significa que mais gente ferida, melhor. Ocorre, porém, que a maior flechada de Janot foi dada no próprio peito. Numa entrevista coletiva patética, sobre os novos grampos da JBS, ele insinuou que quatro ministros do Supremo Tribunal Federal poderiam estar envolvidos em esquemas de corrupção, quando as suspeitas principais recaíam contra o procurador Marcelo Miller, que era seu braço direito. Mais grave ainda foi a revelação, pelos grampos, de que os delatores Joesley Batista e Ricardo Saud eram incentivados a criar provas contra ministros do STF.

Com essa esculhambação institucional, Janot conseguiu dar de bandeja um presente a um de seus principais adversários, o ministro Gilmar Mendes, que o chamou de “delinquente”. Sem resposta, Janot disse que pautava sua atuação não por coragem, mas sim por medo de manchar a instituição que comandou – uma frase que não faz sentido algum.

Evidentemente, a Procuradoria-geral da República saiu menor do episódio, mas ninguém teve a reputação tão diminuída como o próprio Janot, que conseguiu desmoralizar o bambu e enfraquecer suas últimas flechadas. Mesmo que as provas que levantou não sejam invalidadas, ele sairá de cena como Robespierre, que teve o mesmo fim de seus inimigos.

Dentro de poucos dias, a tarefa de reconstruir a imagem do Ministério Público será entregue à nova procuradora-geral, Raquel Dodge, aparentemente menos afeita aos holofotes do que Janot. E se ele tinha algum plano de seguir voos políticos, como uma eventual candidatura ao governo de Minas Gerais, a possibilidade se tornou remotíssima. Janot terá de se preocupar agora em não ser guilhotinado.

O procurador-geral distribuiu flechadas a torto e a direito, mas a maior delas foi no seu próprio peito