O economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, apontou que a inflação de Serviços apresenta uma queda grande no acumulado de janeiro a setembro, quando ficou perto de 5%, abaixo do patamar próximo a 6% registrado no mesmo período de 2015. “Isto mostra que o regime de metas, com a atuação do Banco Central, está funcionando”, comentou.

Contudo, Mesquita apontou que o equilíbrio macroeconômico do País não depende apenas do trabalho do Banco Central para controlar os preços, pois precisa de mudanças estruturais nas contas públicas. “Não adianta o esforço para combater a inflação sem as reformas fiscais”, comentou.

Mesquita apontou que como a trajetória da dívida pública ante o PIB hoje é explosiva, sem o teto de gastos e a reforma da Previdência Social a tendência seria esse passivo crescer sem controle. Ele destacou que sem tais mudanças estruturais, em dois ou três trimestres poderíamos estar “discutindo o Plano Collor”, que adotou medidas para administrar a expansão muito forte do passivo do governo. “Ou então, outro caminho seria a alta da inflação, que poderia chegar a 20%, 40%, 60% ao ano, quem sabe 100%”, comentou.

Mesquita ponderou que a reforma da Previdência Social é a fase mais complexa das mudanças estruturais fiscais e apontou que seu sucesso será proporcional à sua amplitude. Por outro lado, ele destacou que a PEC do Teto tem o mérito de forçar o debate no País sobre a alocação de recursos no Orçamento.

Na avaliação de Mesquita, num país com juros altos como o Brasil, o grau de manobra da política fiscal é limitado; “O ajuste pelo lado da despesa tem menos impacto sobre a atividade econômica”, comentou.

Reformas fiscais

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Mesquita disse que, apesar de sempre existir o risco de complacência na gestão das contas públicas, especialmente quando o nível de atividade está indo bem, acredita que o Ministério da Fazenda, o Banco Central e o núcleo que envolve o presidente da República “estão muito conscientes da necessidade de reformas fiscais.”

“A agenda de reformas é muito importante para reforçar a credibilidade do País”, comentou Mesquita. “O ajuste fiscal é gradual, mas é o possível em conjuntura de recessão.”

Perguntado sobre se a crise política, especialmente se for agravada com uma eventual delação do ex-deputado Eduardo Cunha, poderia provocar a queda do presidente Michel Temer, Mesquita apontou que “não acho provável que Temer saia do governo”.

Para Mesquita, na hipótese remota de Temer não poder continuar no cargo, ele acredita que seu sucessor, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (Democratas-RJ), não trocaria a direção do Banco Central. “O BC deve ser pilar de estabilidade da economia”, apontou.

Empresas

Mesquita afirmou que há sinais de que o lucro de empresas está melhorando com a queda de custos. Entre essas despesas que estão diminuindo, destaque para o custo unitário do trabalho e dos aluguéis, fatos que ocorrem devido à retração da economia.

“O crédito começa a descongelar para grandes empresas e chegará a pequenas e médias”, comentou Mesquita. “A perspectiva de queda da Selic ajuda a melhora do crédito às grandes companhias.” E esse movimento deve estar acontecendo também em função da fase final do forte recuo do nível de atividade. “O fim do túnel da recessão provavelmente foi o terceiro trimestre deste ano”, disse Mesquita.


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