Abalada nesta quinta-feira (27) pelo novo terremoto que atingiu na véspera o centro da península – pela segunda vez -, a Itália começou a avaliar os graves danos provocados.

Embora ainda não haja registro de óbitos, cerca de 4.000 pessoas se negam a voltar para casa por medo de tremores secundários.

“Esta é uma dura prova para a Itália. Não vamos deixar os cidadãos sozinhos. A Itália está ferida, mas não se dobra”, prometeu o premiê Matteo Renzi, em uma entrevista coletiva improvisada em Camerino, na região de Marcas, uma das cidades mais afetadas pelos sismos de quarta à noite.

Renzi pediu “que não se esgote a atenção da política, quando diminuírem os holofotes” nas regiões afetadas, onde muitas edificações caíram, entre elas igrejas medievais, casas de pedra e construções já atingidas pelo terremoto de 24 de agosto. O saldo dessa tragédia foi de 300 mortos.

“É um milagre que não existam vítimas, já que foi um terremoto potente”, reconheceu hoje o ministro italiano do Interior, Angelino Alfano.

Como a maioria das pessoas estava na rua, por causa do primeiro terremoto, não houve mortos, e sim alguns poucos feridos – nenhum em estado grave.

Os tremores secundários – mais de 200, os quais foram registrados nas regiões de Marcas e Umbria – deixam os moradores dessa zona aterrorizados, depois de terem passado a noite fora de casa, muitos deles em seus próprios carros.

“Ninguém passará a noite em automóveis”, garantiu o porta-voz da Defesa Civil, Luigi D’Angelo.

A entidade calcula que cerca de 4.000 pessoas, de 15 localidades, entre elas Castel Sant’Angelo sul Nera, Preci e Visso, entre as mais destruídas, passarão a noite em abrigos seguros.

“O terremoto foi muito forte, apocalíptico, as pessoas gritando nas ruas, não havia luz. Nosso povoado está acabado”, lamentou Marco Rinaldi, prefeito de Ussita, perto região de Marcas, situado perto do epicentro.

Os serviços da Defesa Civil abriram refúgios para centenas de pessoas que precisaram abandonar suas casas, após os dois tremores consecutivos de quarta-feira, de 5,5, e de 6,1 graus depois.

Ussita foi uma das localidades a 600 metros de altitude, onde o terremoto foi mais sentido, embora os dois tremores também tenham sido notados em todo o centro da Itália e até mesmo em Roma, a capital, onde muitas pessoas correram para as ruas.

Segundo a Defesa Civil, há vários feridos leves, e muitas pessoas foram enviadas às emergências dos hospitais da região por ferimentos, ou desmaios. Até agora não foram registradas vítimas sob os escombros.

Um carabineiro relatou que um homem de 70 anos morreu em Tolentino, perto da zona mais afetada, provavelmente vítima de um ataque cardíaco.

“Agora mesmo há vários helicópteros voando para reconhecer a zona com a luz do dia, e teremos uma ideia mais precisa dos danos”, acrescentou o ministro Alfano, indicando que foram mobilizados cerca de mil bombeiros e 450 veículos de resgate, entre eles quatro helicópteros.

Soluções duradouras

O governo disponibilizou imediatamente um fundo de 40 milhões para emergência. Um sistema de transporte com ônibus começou a transferir os desabrigados que aceitaram passar a noite em hotéis da costa adriática, enquanto outros decidiram dormir nas estruturas dispostas pela Defesa Civil na região.

“Apesar dos riscos, não vou embora daqui. Nasci aqui e passei toda minha vida aqui”, disse à AFP Elio Lazareto, de 78, cuja casa na periferia do centro histórico não sofreu danos, mas se encontra na zona restringida.

O governo italiano deseja oferecer aos desabrigados uma solução duradoura e pede à União Europeia (UE) maior flexibilidade fiscal com o déficit para poder enfrentar as emergências.

“Precisamos de uma mudança estrutural para fazer frente aos terremotos. Temos de explicar isso bem aos que não entenderam que, com esse assunto, não se fazem piadas”, advertiu Renzi, referindo-se à sua disputa com a UE.

“Essa tragédia precisa ser enfrentada como em agosto, todos unidos, para reconstruir os povoados e a comunidade”, declarou o presidente do Senado, Pietro Grasso.

Segundo Giuliano Pazzaglini, prefeito de Visso, a poucos quilômetros de Ussita, dois terços dos prédios agora são “inutilizáveis”.

A população se nega a voltar para suas casas, mas também não quer viver em barracas devido ao início do outono, que traz chuva e frio. No outono e no inverno, a temperatura nessa região montanhosa pode alcançar os -10ºC.

“Há várias milhares de pessoas deslocadas. A prioridade é arranjar abrigos”, avaliou o chefe da Defesa Civil de Las Marcas, Cesare Spuri.

Os dois tremores de quarta-feira foram de 5,5 graus, às 19h10 locais (15h10, horário de Brasília), e de 6,1, às 21h18 locais (17h18, horário de Brasília), segundo o Instituto Nacional de Geologia e Vulcanologia (INGV).

Os epicentros dos dois tremores se situaram a poucos quilômetros ao norte da região de Amatrice, devastada em 24 de agosto. Também fica perto de Áquila, onde 300 pessoas morreram em um terremoto em 2009.

Como medida de precaução, as escolas permanecerão fechadas nesta sexta.