O canoísta Isaquias Queiroz, de 22 anos, entrou para a história do esporte brasileiro neste sábado ao se tornar o primeiro atleta do país a conquistar três medalhas em uma única edição dos Jogos Olímpicos.

Isaquias conquistou a medalha de prata na prova C2 1000 metros nos Jogos Rio-2016, ao lado de Erlon de Souza. Antes já havia levado a prata no C1 1000 m e o bronze no C1 200 m, nas finais disputadas na lagoa Rodrigo de Freitas.

Com as medalhas, o baiano superou as façanhas dos atletas brasileiros que subiram ao pódio duas vezes em uma única Olimpíada: os nadadores César Cielo (ouro e bronze em Pequim-2008) e Gustavo Borges (prata e bronze em Atlanta-1996) e os atiradores Guilherme Paraense (ouro e bronze na Antuérpia-1920) e Afrânio da Costa (prata e bronze na Antuérpia-1920).

E, para completar a honraria, Isaquias foi escolhido para ser o porta-bandeira da delegação brasileira na cerimônia de encerramento dos Jogos Rio-2016, no domingo no Maracanã.

Nascido em 3 de janeiro de 1994 no pequeno município de Ubaituba (que significa Terra das Canoas na língua Tupi), a 170 km de Salvador, o atleta perdeu um rim quando tinha 10 anos.

Apelidado de “sem rim” após uma ablação parcial, ele logo passou a ser conhecido como “três pulmões” na canoagem de velocidade.

“A brincadeira veio quando eu perdi um rim aos 10 anos depois de cair de uma árvore”, contou à AFP antes da Olimpíada.

“Um ano depois comecei a canoagem. As pessoas achavam que não daria certo, porque achavam que seria uma deficiência. Mas acabei mostrando para o Brasil, para o mundo, que não tem nada de deficiência, não tem nada de problema”.

“Então eu acho que implantaram um pulmão a mais em mim durante a operação”, diz, aos risos, antes de completar: “Nunca deixei essa dificuldade me atrapalhar no meu rendimento na canoagem”.

“Nunca deixei ninguém ganhar de mim para depois eu falar: ‘Eu perdi porque só tenho um rim’. Não, eu gosto de competir de igual pra igual. O ruim é quando uma pessoa perde para mim e diz: ‘Nossa, perdi para um cara que só tem um rim!”

Aos 17 anos, o jovem canoísta conquistou seu primeiro campeonato mundial júnior na prova dos 200 metros canoa individual, e depois a prata nos 500 m.

Desde então, sua ascensão foi vertiginosa.

Isaquias, que tem cinco irmãos biológicos e quatro adotados, deve muito a seu talento e ao esforço de sua mãe, dona Dilma, que depois de perder o marido se esforçou ao máximo para criar os filhos com seu trabalho de servente na rodoviária de Ubaituba.

O carinho do canoísta ficou claro após as provas nos Jogos Rio-2016 e emocionou o público presente nas arquibancadas da lagoa Rodrigo Freitas.

Carreira

Isaquias Queiroz iniciou sua trajetória na canoagem velocidade no Programa Segundo Tempo, do ministério do Esporte, em 2005. Atualmente conta com benefícios como o Bolsa Pódio.

Ele começou a chamar a atenção no Mundial Juvenil de 2011, quando conquistou uma medalha de ouro e uma de prata.

Nos últimos três anos, nos Mundiais de Duisburg, Moscou e Milão, ele colecionou seis medalhas: três de ouro e três de bronze.

O espanhol Jesús Morlán, que aceitou o convite para treinar a equipe do Brasil em 2013, admitiu que Isaquias, que considerava um “diamante bruto”, foi um dos principais motivos que o levaram a preferir a proposta do país.

Atualmente, Isaquias treina com a equipe brasileira na pacata cidade de Lagoa Santa, Minas Gerais, com dedicação exclusiva à canoagem.

“Fico muito feliz por meu nome entrar no livro dos recordes do esporte brasileiro, mas a verdade é que não depende só de mim. A minha equipe toda está de parabéns, se eles não estivessem comigo a vitória não valeria a pena e eu não conseguiria alcançar esses objetivos. Eu dedico essa vitória à equipe da canoagem, que é maravilhosa e não deixou a gente na mão”, afirmou neste sábado.

Com apenas 22 anos e uma carreira já repleta de conquistas, o futuro do “sem rim” que virou “três pulmões” tem tudo para ser ainda mais brilhante.

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