O brasileiro tem acompanhado mês a mês, no último ano, a queda da inflação. O preço dos alimentos já sobe menos, o estacionamento não aumenta como antes, mas dois itens insistem em não dar trégua: os serviços de educação e saúde continuam sendo reajustados acima do índice geral de preços. Entre as explicações para essa resistência está no fato de que o consumidor, nesses casos, não abre mão da qualidade e da confiança dos serviços privados. Os preços, desse jeito, não cedem.

Em agosto, a inflação oficial acumulada em 12 meses, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ficou em 2,5%. Foi a menor marca em mais de 18 anos. Enquanto isso, os gastos com serviços de educação subiram o triplo (7,5%). No mesmo período, os de saúde subiram o dobro (5,2%).

Os cálculos da LCA Consultores não consideram os planos de saúde, cujos preços são monitorados pelo governo. Neste ano, a Agência Nacional de Saúde (ANS) autorizou um aumento máximo de 13,55% para os planos, praticamente o mesmo reajuste do ano passado.

A fisioterapeuta Cleci Rojanski conhece esses porcentuais na ponta do lápis. Dona de um estúdio de pilates, ela é uma prestadora de serviços que não consegue aumentar as mensalidades desde o ano passado. “Perdi clientela do ano passado para cá. Se eu tivesse reajustado, seria bem pior”, diz.

Na outra ponta, no entanto, os preços subiram. O plano de saúde da família teve alta de quase 15%. A mensalidade da escola do filho de 12 anos foi reajustada em 10%, para R$ 1.315. “Pensamos em mudar para um plano de saúde mais barato, mas temos toda uma preocupação com isso”, diz. Ficar sem plano está fora de cogitação. Para equilibrar o orçamento da família, Cleci reduziu viagens e jantares em restaurantes. “No dia a dia, a gente não percebe a queda da inflação.”

Quando se trata de educação e saúde os preços têm subido, sistematicamente, acima da inflação geral ao longo dos anos. Na última década, enquanto o IPCA acumulado subiu 80,5%, os preços dos serviços de saúde cresceram 113,8% e os de educação, 110,7%.

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O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, diz que as relações de confiança construídas ao longo do tempo entre clientes e prestadores de serviços de saúde, como médicos e dentistas, acabam dificultando a troca por opções mais baratas. “A relação de confiança acaba fazendo com que possíveis abusos possam acontecer.”

O economista da LCA Consultores, Fabio Romão, diz que existe alguma resistência nos preços dos serviços de educação e saúde, mas pondera que a trajetória é de desaceleração. “Resistência existe, mas não é absoluta.” Segundo ele, no caso da educação, as famílias pensam duas vezes antes de mudar as crianças de escola. “Há todo um ciclo social que a criança desenvolveu na escola, a proximidade de casa.” Esses fatores, segundo ele, chancelam os reajustes e dão resistência à queda de preços.

O presidente do sindicato das escolas particulares de São Paulo, Benjamim Ribeiro, é mais direto: “nosso concorrente, a escola pública, é muito ruim, por isso as famílias preferem manter os filhos na escola particular”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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