05/05/2017 - 18:00
No início da manhã de quarta-feira 3 de maio, o presidente Michel Temer passou a mão no telefone e ligou para os líderes dos partidos da base aliada do governo na Câmara. Recebeu alguns deles para o café da manhã no Palácio do Jaburu, sua residência oficial. Na hora do almoço, parlamentares influentes, como Pauderney Avelino (DEM-AM) e Beto Mansur (PRB-SP) o visitaram no Palácio do Planalto. À tarde, encontrou-se com o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson. À noite, abraçou o ex-presidente Fernando Henrique durante jantar ladeado por parlamentares do PSDB. Em todos esses encontros, o tema foi um só: reforma da Previdência. Temer está fazendo marcação cerrada, homem a homem, para conseguir conquistar maioria confortável de votos e levar a matéria a plenário. O governo diz já ter os 308 votos necessários na Câmara para aprovar a medida e levá-la ao Senado, mas quer ter certeza que a situação será confortável, com ao menos 330 favoráveis.Porém, congressistas importantes contabilizam menos de 200 votos.
Um governo de coalizão, como o que vigora hoje no Brasil, prevê que o Executivo e a base aliada no Legislativo se entendam em questões primordiais para o País e que remem todos para a mesma direção. Porém, não é o que está sendo visto em votações recentes. Partidos como o PSB, que comanda os ministérios da Defesa e da Cultura estão, em sua maioria, contra as reformas trabalhista e previdenciária. Mesma situação está o PTB, que comanda a pasta do Trabalho, além de Pros, Solidariedade, PTB, PSD, PP, PR… Ao ver uma sucessão de traições dentro até do próprio PMDB, o presidente manteve a postura de articulação, porém tomou a drástica decisão de punir os que teimam em votar contra o governo e contra as reformas. Exonerou funcionários de órgãos como o INSS, ao menos dez, e de servidores vinculados ao Ministério da Agricultura.
Boquinhas
Essa medida mais enérgica de Temer tem dois efeitos. Por um lado, deixou alguns parlamentares em situação delicada porque, se mudarem de posição depois de perderam suas “boquinhas”, o eleitorado pode acusá-los de se vender. Por outro, serve como exemplo para os que estão cogitando a infidelidade. Eles já pensam melhor.
O ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy (PSDB) anda com a lista dos infiéis a tiracolo. Temer tem se encontrado com cada um deles. Além de retaliações e ameaças, o presidente tem negociado novos cargos, antecipação de liberação de emendas do orçamento e aceleração em repasses. A caneta presidencial continua sendo um atrativo reluzente.
Infiéis punidos
Temer mandou demitir ao menos 30 funcionários indicados por deputados aliados e que votaram contra o governo
> Três exonerações foram publicadas no Diário Oficial da União de terça-feira 2, derrubando indicações dos deputados Deley (PTB-RJ), Expedito Neto (PSD-RO) e Ronaldo Fonseca (Pros-DF). Os três votaram contra a reforma trabalhista
> Outras demissões não foram publicadas por serem administrativas. Mas derrubaram comissionados no INSS, de órgãos vinculados aos ministérios da Agricultura, do Meio Ambiente, de Minas e Energia, entre outros
> O Palácio do Planalto indica que continuará punindo com corte quem não votar com o governo