Durante os pouco mais de cinco anos em que atuou como vice-presidente da República, Michel Temer viajou pelo mundo como uma espécie de caixeiro-viajante. Acompanhado de ministros, assessores e empresários, ele se acostumou a encontros com investidores em que vendia a imagem do Brasil como um País próspero e seguro. Foi assim em ao menos 15 viagens internacionais no período. Agora, como presidente, Temer se prepara para lançar ao mundo a sua nova faceta: a de chefe de Estado. O primeiro passo foi dado horas depois de sua posse no Senado, quando embarcou para a China, principal parceiro comercial do País. A visita de quatro dias, com duas paradas, será um prefácio de como a agenda de Temer se organizará no Exterior nos próximos dois anos. Em Xangai, o presidente participará de um seminário com empresários e, em Hangzhou, da Cúpula do G20, onde estarão presentes os maiores líderes globais da atualidade, do presidente americano, Barack Obama, ao russo, Vladimir Putin, passando pela chanceler alemã, Angela Merkel. Por fim, Temer terá um encontro com o embaixador brasileiro Roberto Azevêdo, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC).

FRANÇA Em reunião com assessores e o presidente francês, François Hollande (de óculos, na frente de Temer), em 2013
FRANÇA Em reunião com assessores e o presidente francês, François Hollande (de óculos, na frente de Temer), em 2013

RECONHECIMENTO

A viagem à China é fundamental para que Temer reforce os laços com potências amigas do Brasil, mas, sobretudo, para que construa uma imagem de líder internacional. Antes mesmo de desembarcar em território asiático, porém, o reconhecimento de outros países ao seu governo já aconteceu. Assim que foi encerrada a votação que definiu o afastamento definitivo de Dilma Rousseff no Senado, na quarta-feira 31, o governo americano declarou que o processo de impeachment ocorreu dentro do “ordenamento constitucional do Brasil”. “Estamos confiantes que continuaremos a forte relação bilateral que existe entre nossos países”, disse John Kirby, porta-voz do Departamento de Estado. O tom foi semelhante ao do governo argentino, que, desde maio, mantém uma postura cordial em relação à gestão de Temer (Buenos Aires foi destino da primeira viagem de José Serra como chanceler) e disse que respeitava o “processo institucional verificado no país irmão”. Estados Unidos e Argentina são dois dos países que o presidente deve visitar nos primeiros meses de seu governo.

“Confio que, sob a liderança do presidente Temer, o
Brasil e as Nações Unidas continuarão sua estreita parceria”,
Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU

Será em Nova York, na abertura da reunião de chefes de Estado da Assembleia Geral da ONU, na segunda metade de setembro, que Temer terá seu maior desafio. O discurso, que tradicionalmente cabe ao presidente do Brasil, deverá transcender as questões do País e falar sobre temas universais, como o acolhimento de refugiados, o combate ao terrorismo e o fortalecimento de fóruns multilaterais, como a OMC – num posicionamento ainda inédito para Michel Temer. Em outubro, Temer viajará à Índia para se reunir com os líderes dos BRICS, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e à Colômbia para a Cúpula Ibero-Americana.

PAPA Com Francisco no Aeroporto do Rio, em julho de 2013
PAPA Com Francisco no Aeroporto do Rio, em julho de 2013
RÚSSIA Temer cumprimenta o presidente russo, Vladimir Putin, em cerimónia em Moscou, em 2011
RÚSSIA Temer cumprimenta o presidente russo, Vladimir Putin, em cerimónia em Moscou, em 2011

Na confirmação de Temer como presidente, houve também espaço para reações tão adversas quanto previsíveis. O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, aliado histórico dos petistas, convocou de volta seu embaixador em Brasília e anunciou o congelamento das relações diplomáticas entre os dois países. Em resposta, o Itamaraty fez o mesmo com o embaixador brasileiro na Venezuela, Ruy Pereira, e o chamou para consultas. “O governo brasileiro repudia os termos do comunicado emitido pelo governo venezuelano”, disse, em nota, o Ministério das Relações Exteriores. “Revela profundo desconhecimento da Constituição e das leis do Brasil e nega frontalmente os princípios e objetivos da integração latino-americana.” A pasta chefiada por José Serra voltou a se manifestar, em seguida, para lamentar a “incompreensão dos governos de Bolívia, Equador e Cuba”, que também questionaram a legitimidade do novo presidente.

Agenda internacional
Nos próximos meses, o presidente viajará em busca de investidores e para estreitar as relações bilaterais

China
Neste fim de semana, Temer participaria da Cúpula de Líderes do G20 em Hangzhou. O presidente também teria conversas bilaterais

Estados Unidos
A viagem a Nova York em setembro marcará a estreia de Michel Temer no discurso de abertura da Assembleia Geral da ONU, que tradicionalmente cabe ao presidente brasileiro

Índia
Em outubro, será a vez de se reunir com os líderes dos BRICS, bloco emergente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul

Argentina
No mesmo mês, Temer deverá visitar Buenos Aires para se encontrar com o presidente argentino, Mauricio Macri

Colômbia
Ainda em outubro, Temer participará da Cúpula Ibero-Americana, que ocorrerá em Cartagena das Índias. No encontro com chefes de Estado de países latino-americanos e de Portugal e Espanha, também estarão presidentes que foram críticos ao impeachment

Fotos: AP Photo/Jung Yeon-je, Pool; AP Photo/Jacques Brinon, Pool; Andre Penner/AP Photo; AP Photo/Mikhail Metzel, pool