SÃO PAULO, 08 AGO (ANSA) – Por Lucas Rizzi – O batizado de três filhos de um casal homossexual em uma igreja de Curitiba (PR) ganhou o noticiário do Brasil inteiro, mas não é algo inédito nem impossível de acontecer.   

Em entrevista à ANSA, o padre Alex, que trabalha na Arquidiocese da capital paranaense e acompanhou de perto o caso de Toni Reis e David Harrad, diz que a possibilidade de batizar herdeiros de cônjuges homoafetivos é prevista pelo direito canônico desde a década de 1980.   

“Na verdade, nós já temos essa autorização faz algum tempo. Não é o primeiro caso, mas este teve muita visibilidade, até porque a luta de Toni é famosa. Temos a intenção de batizar todas as pessoas que pedem o batismo. Essa é a orientação da Igreja”, explica.   

Toni Reis é secretário de educação da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) e divulgou no Facebook a saga com seu parceiro, David Harrad, para batizar seus três filhos: Alyson, 16 anos, Jéssica, 14, e Filipe, 12.   

A cerimônia ocorreu no último dia 23 de abril, na Catedral de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, em Curitiba, e o casal ficou tão feliz com a conquista que decidiu até mandar uma carta ao papa Francisco.   

A resposta chegou nesta semana, em uma correspondência assinada por um assessor da Secretaria de Estado do Vaticano, o que colaborou para dar notoriedade ao caso. No texto, o monsenhor Paolo Borgia escreve que o Pontífice “deseja felicidades, invocando para sua família a abundância das graças divinas”.   

“É uma carta padrão, as pessoas que se correspondem com a Santa Sé recebem respostas”, minimiza o padre Alex. Antes de conseguir batizar seus filhos, o casal teve seu pedido negado por quatro paróquias, apesar de essa possibilidade ser autorizada pelo direito canônico. Então eles decidiram recorrer à Catedral de Curitiba, que permitiu o sacramento.   

“Eles procuraram a Catedral de Curitiba, e o pároco de lá, já sabendo disso [da permissão], apenas comunicou o arcebispo. Mas não é algo difícil de conseguir”, acrescenta o religioso.   

Segundo ele, a única exigência é o compromisso de que os filhos sejam educados na fé católica.   

“A fé católica considera como matrimônio apenas a união entre homem e mulher, mas não condena pessoas homoafetivas que vivem juntas”, ressalta. No entanto, se o batismo de filhos de homossexuais é permitido, por que quatro paróquias rejeitaram o pedido de Toni e David? Para Alex, uma eventual recusa pode se dar por dois motivos. O primeiro é uma desconfiança do sacerdote quanto às intenções do casal de educar seus herdeiros sob a doutrina católica, argumento que o próprio padre da Arquidiocese de Curitiba reconhece que é vago.   

A segunda diz respeito às convicções individuais do religioso que nega o batismo. “Pode ser preconceito do próprio padre de não reconhecer essa determinação”, afirma. Quando um casal homossexual não recebe autorização para batizar seus filhos em uma igreja, ele deve recorrer à Cúria da arquidiocese em questão, que pode forçar a paróquia a celebrar o sacramento.   

O padre Alex ainda salienta que muitos homossexuais não sabem que podem batizar seus filhos na Igreja Católica, enquanto outros preferem manter uma postura de discrição, mas faz um alerta: “A Igreja não mudou a doutrina. O Papa não reconheceu a união de dois homens como matrimônio”. (ANSA)