Fã de novelas brasileiras, Idalis Ortiz se derrete pelos galãs, mas prefere a companhia de brutamontes, pelo menos nos tatames. Atual campeã olímpica dos pesos pesados no judô, a cubana é a principal rival da brasileira Maria Suelen Altheman nos Jogos Olímpicos do Rio

Neste ciclo olímpico, as duas se enfrentaram nas decisões de dois mundiais, em 2013, já na cidade maravilhosa, e em 2014, em Cheliabinsk, na Rússia. Nas duas ocasiões, a cubana levou a melhor.

Quando conquistou seu primeiro título mundial no Rio, depois de dois bronzes em Roterdã-2009 e Tóquio-2010, Ortiz se sentiu quase em casa: a cidade serve de cenário para a maioria das novelas que a juduca acompanha de forma assídua, que a fizeram “chorar” mais de uma vez.

Depois dos Jogos, porém, a cubana vai tentar realizar um sonho mais íntimo. “Quero para um pouco para fundar uma família, mas minha intenção não é abandonar o judô”, confessou em entrevista à AFP.

Natural de Candelária, povoado situado a 84 km de Havana, chegou ao mais alto patamar com muito sofrimento, na medida em que vinha sendo derrubada por homens de impressionante força física.

– Cair para levantar mais forte –

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Em Londres, conseguiu o que parecia impossível: acabar com a hegemonia do Japão e da China na categoria acima de 78 kg. Nunca antes uma judoca nascida fora do continente asiático havia reinado entre as pesos pesado desde que a modalidade abriu as portas para as mulheres, em Barcelona-1992.

Com 1,73 m e 115 kg, sorriso fácil e gestos delicados, a cubana se transforma em fera nos tatames. Na capital inglesa, superou n semifinal a favorita Tong Wen, da China, campeã olímpica em Pequim-2008, antes de derrubar a campeã mundial Mika Sugimoto, do Japão.

“No Rio, espero manter meu ouro olímpico, mas qualquer adversária que terei pela frente será difícil”, avisa Ortiz, que já conquistou cerca de 200 medalhas na sua carreiras, duas olímpicas (ouro e bronze), cinco em Mundiais (dois ouros e três bronzes) e quinze títulos pan-americanos.

Para adicionar mais uma conquista a esta lista extensa, ela treina sete horas diárias com seu novo treinador, Armando Padrón, sempre em condições diferenciadas.

Desde que iniciou sua trajetória nos tatames, em 1999, ela vem treinando com homens.

“Sempre fui corpulenta, não tinha meninas para competir comigo. Sempre, a vida inteira, tive que treinar com homens, porque estão mais perto do meu nível em alguns casos e muito superiores em outros”, justifica.

Nem tudo foram flores para a cubana, que perdeu muitas lutas até chegar ao topo. “Não comecei ganhando e foi derrubada mais vezes de que se pode imaginar, mas perder me dava força mental”, analisa.

– Família angustiada –

“Desde que chegou à seleção nacional, ela vem mostrando maturidade, caráter e dedicação. Essas qualidades, somadas ao talento e à disciplina, forjaram uma mentalidade vencedora”, elogia Driulis González, lenda do judô cubano e treinadora da das judocas do país.

Idalis chegou à seleção aos 14 anos. Uma das suas irmãs a acompanhou, e intimidada com a força das outras meninas, perguntou, nervosa, se ela realmente queria ficar.

“Eu disse: se estamos aqui, vamos continuar”. Bastaram algumas lutas para entender que a adolescente estava no lugar certo.


“O professor Ronaldo Veitía (hoje aposentado) disse à minha irmã: ‘pode ir embora, que sua irmãzinha vai ficar”, lembrou.

Contagiados pela angústia da irmã de Idalis, os pais sempre relutaram em assistir às lutas da filha ao vivo.

“Meus pais nunca me viram competir ao vivo. Meus irmãos conseguem ver um pouco, na TV, mas meus pais não”, revelou a multicampeã, com sorriso largo estampado no rosto.

Quando não treina, Idalis gosta de ler, ouvir música e assistir novelas mexicanas ou brasileiras, “qualquer uma que me faça chorar”.

No Rio, ela espera chorar mais uma vez: de alegria, com medalha de ouro no pescoço.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias