Com sua superpopulação de pacientes e higiene duvidosa, o hospital de Gorakhpur (norte da Índia), no centro da polêmica após a morte de dezenas de crianças, é o retrato triste de um sistema de saúde pública deficiente e subfinanciado.

A morte, na semana passada, de 85 crianças e bebês em apenas alguns dias no hospital universitário de Baba Raghav Das, no estado pobre de Uttar Pradesh, provocou um escândalo no país.

As circunstâncias da tragédia estão pouco claras: enquanto as autoridades culpam uma epidemia local de encefalite, meios de comunicação indianos atribuem ao menos uma parte destas mortes à escassez de cilindros de oxigênio no estabelecimento médico, devido à falta de pagamento aos fornecedores.

Alguns pais inclusive tiveram que passar horas fornecendo oxigênio aos seus filhos com bombas manuais para mantê-los com vida.

“Estas mortes não mudarão nada no curto prazo e não é um simples problema de oxigênio. A deterioração está em estado avançado e o sistema deve ser completamente reformado”, reconhece à AFP um encarregado do hospital sob condição de anonimato.

No serviço de pediatria do hospital, é preciso abrir caminho entre as dezenas de pessoas que esperam sentadas no chão do corredor. Muitos são pobres que não têm recursos para ir a centros de atendimento privados.

A fileira de pessoas leva a uma série de quartos com crianças doentes e os familiares que cuidam deles. No serviço de neonatologia, algumas camas estão ocupadas por três ou quatro recém-nascidos devido à falta de espaço.

Um leve cheiro de urina ainda emana dos muros, apesar das tentativas vigorosas de eliminá-lo antes da visita do dirigente de Uttar Pradesh, no fim de semana passado, para avaliar a situação.

– “Caminhamos no escuro” –

“Tenho consciência de que a higiene é muito ruim aqui e que há riscos de infecções. Sejam quais forem as carências, vamos trabalhar para resolvê-las”, garantiu P.K Singh, o novo diretor do hospital. Seu antecessor foi despedido após o escândalo, na semana passada.

A Índia, gigante demográfico do sul da Ásia, destina muito menos recursos à saúde púbica do que o resto do planeta. Em 2014, o país dedicava apenas 1,5% do seu PIB a este setor, em comparação com os 6% em média do resto dos países, segundo dados do Banco Mundial.

Há uma grave falta de pessoal. O distrito de Gorakhpur, com quase 4,5 milhões de pessoas, só conta com cinco pediatras e 22 centros de tratamento da encefalite, apesar dos estragos que esta doença, transmitida por mosquitos, causa todos os anos na região.

Ravindra Kumar, a maior autoridade médica do distrito, reconhece sua impotência diante desta situação.

“Caminhamos no escuro, sem ter ideia das causas, métodos de prevenção e tratamento da encefalite”, declara à AFP.

Desde o início do ano, 127 pessoas sucumbiram à uma encefalite aguda em Uttar Pradesh, estado com 220 milhões de habitantes, segundo estatísticas oficiais de 6 de agosto.

Prasad, um agricultor pobre, percorreu 65 km para levar sua filha Anushka Prasad, afetada por uma febre alta, ao hospital Baba Raghav Das.

Entre a confusão e multidão, Prasad precisa ter paciência, enquanto o pessoal médico às vezes parece ser invisível. Não sabe sequer o que está acontecendo com sua filha.

“Provavelmente tem pneumonia. Não sei, os médicos não me disseram nada”, diz resignado.