A julgar pelo que já dizem abertamente as principais lideranças do PSDB, partido que desempenhou um papel central na crise política brasileira, dentro de algumas semanas o Brasil terá um novo presidente: o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que comanda a Câmara dos Deputados. Segundo o presidente interino da legenda, Tasso Jereissati (PSDB-CE), só Maia terá condições de estabilizar o País e conduzir a travessia até 2018. Para o senador Cássio Cunha Lima (PSDB-MG), o governo Temer acabou e em 15 dias o Brasil terá nova direção.

O desembarque tucano, que vinha sendo adiado, se deve à evidente insustentabilidade de Michel Temer no poder. Além de ser a primeira pessoa denunciada por corrupção durante o exercício da Presidência na história do Brasil, em breve ele será também denunciado por obstrução judicial, assim que forem efetivadas as delações premiadas do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do empresário Lúcio Funaro. Ambos devem confirmar que vinham se mantendo em silêncio apenas porque eram pagos pelo empresário Joesley Batista.

Antes mesmo da delação, Funaro deu o depoimento decisivo para a prisão de Geddel Vieira Lima, outro operador de Temer, ao dizer que ele vinha assediando sua esposa para evitar uma eventual colaboração judicial – o que amplia a veracidade das gravações de Joesley. Nas fitas, o dono da JBS pede a Temer a indicação de um novo interlocutor após a queda de Geddel e é só então que entra em cena o “homem da mala” Rodrigo Rocha Loures.

Da mesma forma, uma delação de Cunha, que acolheu o impeachment sem crime de responsabilidade proposto pelo PSDB contra a presidente Dilma Rousseff, será fatal para Temer – o mais valioso prêmio que o ex-deputado, já condenado a mais de 15 anos de prisão, tem hoje a oferecer aos investigadores. Portanto, ao sentir o navio afundando, o PSDB rapidamente tratou de embarcar no projeto que parece mais viável.

Diante desse cenário, o que esperar de Rodrigo Maia, rotulado como o “Botafogo” nas planilhas da Odebrecht? Na economia, mais do mesmo, com a manutenção de Henrique Meirelles na Fazenda e Ilan Goldfajn no Banco Central. No Congresso, a mesma agenda de reformas, mas com uma base governista em pânico diante da incapacidade demonstrada por Temer em “estancar a sangria”. A favor de Maia, uma postura menos revanchista, com maior capacidade de diálogo demonstrada com todas as forças políticas, incluindo o PT. E mesmo que a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) já tenha antecipado o “Fora Maia”, parece pouco provável que o atual presidente da Câmara repita os mesmos erros de Temer. Se ele vier a assumir o comando, com apoio do establishment financeiro, será pouco provável que antes de 2018. A menos que o clamor das ruas por diretas seja bem mais intenso do que foi até agora.

Se “Botafogo” se tornar presidente, terá sido única e exclusivamente pelos erros de Temer

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