Há 15 anos as cidades do interior do Brasil vêm crescendo mais e gerando mais empregos do que as capitais. Em dezembro de 2001, a China entrou para a OMC. Impulsionado pela demanda chinesa por alimentos, o agronegócio tem sido uma das principais molas propulsoras da economia brasileira.

Por outro lado, o ganho de mercado dos industrializados chineses teve um impacto negativo na indústria brasileira. Inundaram o mundo de produtos baratos, e o Brasil não fez nada para reduzir seus custos e estimular a produção. Nos últimos 15 anos, só estimulamos o consumo. O resultado? A indústria brasileira encolheu e demitiu muita gente.

No início de 2017, uma dessas tendências mudou, a outra não. Os empregos continuaram a ser gerados nas cidades do interior. Das 20 cidades que mais criaram empregos nos primeiros cinco meses desse ano, 19 estão no interior. A única exceção foi Goiânia, que apesar de ser Capital é geograficamente impactada pela agroindústria.

A novidade é que agora a geração de emprego foi liderada pelas indústrias. Das 20 cidades que mais cresceram, em apenas cinco o agronegócio foi o setor que mais contratou. Em cidades do interior que lideraram a criação de novos empregos, foi dos subsetores industriais que eles vieram. Em Joinville (SC), é a indústria de autopeças que mais criou empregos. Em Franca (SP), a cidade que mais gerou empregos em todo o Brasil, as contratações vieram dos calçadistas.

O que deixou os empresários industriais confiantes para investirem?

A expectativa de que a produção no Brasil ficaria mais barata e competitiva. Eram esperados dois grandes estímulos à redução de custos, e, por conseqüência, à produção. Primeiro, a reforma trabalhista. Hoje, há duvidas se ela será aprovada. Mesmo que seja, concessões significativas tornaram-se necessárias para sua aprovação. Por isso, seu impacto de redução de custos deve ser menor, assim como sua capacidade de estimular a criação de mais empregos.

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Segundo, esperava-se uma reforma tributaria que reduziria tanto os custos burocráticos, com a simplificação de nosso confuso sistema tributário, quanto a própria carga tributária. Menos impostos e menos custos barateariam os produtos nacionais, tornando-os mais competitivos, e estimulando mais investimentos e empregos. Infelizmente, hoje, sem a perspectiva de aprovação da reforma previdenciária – que reduziria gastos públicos, criando espaço para reduções de impostos – a possibilidade de uma reforma tributária parece remota. É mais provável até que os impostos subam.

Um novo e ainda frágil ciclo de crescimento e geração de empregos se inicia. Tudo indica que a indústria será uma das líderes desse ciclo. A questão agora é se o agravamento da crise política, após as delações da JBS, não vão abortá-lo ou, no mínimo, postergá-lo.


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