Chegou a hora de Michel Temer mostrar a que veio. A conclusão do impeachment de Dilma coloca o novo presidente na berlinda.

Em meu livro Depois da Tempestade, publicado pouco antes de Temer assumir como presidente interino, eu alertava que as pedaladas fiscais, os escândalos de corrupção e as crises econômica e política tornavam o impeachment inevitável. Isto abriria espaço para mudanças da política econômica, trazendo uma recuperação da economia antes e mais forte do que a maioria imaginava.

De lá para cá, a confiança dos empresários e consumidores melhorou. Vários setores já mostram sinais – ainda que incipientes – de recuperação. Os investimentos cresceram um pouco – depois de dois anos de quedas consecutivas – e a inflação desacelerou.

Com o impeachment, é provável que os indicadores melhorem mais, reforçando o círculo virtuoso. No entanto, um componente fundamental para que isto se sustente no futuro ainda está ausente: o ajuste das contas públicas.

Se Temer enfrentar interesses estabelecidos e colocar as contas
públicas em ordem, o círculo virtuoso vai se fortalecer

O desequilíbrio das contas públicas coloca em dúvida a capacidade do governo de arcar com seus compromissos financeiros. Afugenta investimentos e impede a criação de mais empregos, renda e consumo no País.

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A confiança no Brasil melhorou desde que Temer assumiu como interino pela saída do bode da sala. Melhorou pelo que Dilma não mais fará; não pelo que Temer fez até aqui.

Inicialmente, apoiado na fragilidade de sua posição como interino, Temer cedeu a pressões por aumentos salariais do funcionalismo público e não levou à votação no Congresso nenhuma das reformas estruturais necessárias para fortalecer nossa economia.

Agora, Temer parece ter mudado de atitude. Bloqueou aumentos do funcionalismo, colocou em discussão sua proposta de Reforma Trabalhista e sugeriu em breve a reforma que limita gastos públicos.

Se o ajuste das contas públicas não acontecer, a recuperação da confiança será abortada e, com ela, a expansão do crédito – sem confiança, os bancos não emprestarão mais dinheiro para financiar investimentos e consumo.

Chegou a hora da verdade. Se Temer enfrentar interesses estabelecidos e colocar as contas públicas em ordem, o círculo virtuoso vai se fortalecer. Em particular, será fundamental aprovar a reforma que limita os gastos públicos e unificar a previdência em um sistema único, diminuindo os onerosos privilégios do setor público. Se Temer não tiver coragem para fazer isso, o impeachment será uma vitória de Pirro. Repito a pergunta que foi título do meu artigo assim que Temer assumiu como interino: E agora, Temer?


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