Hong Kong, que, no começo da semana, decidiu suspender suas importações de carne brasileira, anunciou nesta sexta-feira a retirada da carne supostamente adulterada procedente de alguns dos 21 estabelecimentos investigados na operação Carne Fraca.

A Polícia Federal (PF) está investigando o suposto uso de ácidos na carne e a manipulação de rótulos para maquiar produtos que já não estavam aptos para o consumo.

O caso afeta um setor-chave da economia do Brasil, o maior exportador do mundo de carne bovina e avícola, e em particular dois gigantes do setor, JBS e BRF.

As autoridades afirmam que as exportações caíram de 63 milhões de dólares diários a apenas 74.000 dólares.

O secretário de Saúde de Hong Kong, Ko Wing-man, anunciou a “retirada completa de toda a carne fresca, congelada e de ave” importada das fábricas no centro da crise.

“Não pudemos eliminar completamente os perigos ocultos em termos de segurança alimentar”, disse Ko aos repórteres para explicar sua decisão.

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Ko ressaltou que seis dos frigoríficos afetados no Brasil exportaram carne a Hong Kong e disse esperar que a ação devolva a confiança aos consumidores em relação à carne brasileira não proveniente dos estabelecimentos envolvidos no escândalo.

Hong Kong importou carne bovina no valor de 718 milhões de dólares em 2016, segundo números do governo brasileiro.

Em carne de frango, os envios à China – que também decidiu suspender suas importações – e a Hong Kong representaram 20% do total, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC).

A União Europeia (UE) também suspendeu as importações de carne brasileira.

O Japão, o terceiro maior mercado para o frango do Brasil, com importações no valor de 720 milhões, impôs uma medida similar, enquanto o México suspendeu a entrada de produtos avícolas brasileiros até receber “garantias sanitárias”. Por sua vez, Coreia do Sul e Argentina reforçaram seus controles.

– Proibições ‘arbitrárias’-

O governo do presidente Michel Temer convocou os outros 163 membros da Organização Mundial de Comércio (OMC) a não impor proibições arbitrárias à indústria da carne do Brasil, que exporta cerca de 13 bilhões de dólares anuais.

As autoridades brasileiras estão fazendo malabarismos para conter os danos colaterais após a explosão do escândalo.

Após uma investigação de mais de dois anos, a PF revelou um sistema no qual os inspetores sanitários recebiam subornos de empresários para autorizar o comércio de carnes não aptas para o consumo humano.

Desde então, ocorreram mais de 30 prisões e três frigoríficos foram fechados.

O secretário de Saúde de Hong Kong explicou que a proibição total de importar carne brasileira será mantida até que “obtenhamos a garantia das autoridades brasileiras de que sua investigação se limita a estes 21 frigoríficos”.


Ko acrescentou que qualquer produto que estivesse chegando ao enclave chinês procedente do Brasil poderia entrar, mas permaneceria selado até o fim das investigações.

Em sua carta à OMC, o Brasil insiste que lida com apenas algumas maçãs podres e que a indústria alimentar brasileira tem boa saúde.

Segundo o governo, dos 11.000 funcionários do ministério da Agricultura, 2.300 trabalham como inspetores de produtos de carne e apenas 33 indivíduos estão sendo investigados por conduta imprópria.


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