A democrata Hillary Clinton e o republicano Donald Trump ignoraram a cordialidade nesta segunda-feira e partiram para o bate-boca no primeiro debate para a Casa Branca, realizado na Universidade Hofstra, na região de Nova York.

Desde o início, os dois principais candidatos à presidência dos Estados Unidos partiram para o ataque frontal, com constantes interrupções e acusações cruzadas, ignorando por completo os esforços do moderador, o jornalista Lester Holt.

Clinton afirmou que a “questão central” desta eleição é decidir “que país queremos ser”, e garantiu que como presidente irá “construir uma economia que funcione para todos e seja mais justa, começando pela elevação do salário mínimo”. “Precisamos de novos empregos, de bons empregos para todos”.

A democrata recordou que há apenas oito anos os EUA enfrentavam “sua pior crise financeira”, provocada por políticas fiscais que reduziram drasticamente os impostos sobre os mais ricos e fracassaram em investir na classe média.

Trump retomou suas insistentes críticas aos tratados de livre comércio afirmando que “nossos empregos estão saindo do país”, e citou México e China.

“Temos que renegociar nossos acordos comerciais e temos que impedir que estes países sigam roubando nossas empresas e nossos postos de trabalho (…). As companhias estão indo embora” dos Estados Unidos, afirmou o republicano, qualificando o sistema de intercâmbio comercial com o México de “deficiente” desde o início.

Os EUA “estão com problemas, não sabem o que fazer diante das desvalorizações nestes outros países, especialmente na China”. “O que estão fazendo conosco é algo muito triste. Trarei os empregos de volta. Você não fará isto”, disse Trump à Clinton.

A democrata respondeu que Trump “vive uma realidade própria”.

Em outro momento “quente” do debate, Trump declarou que mostrará sua declaração de renda quando Clinton divulgar os emails que apagou de seu servidor pessoal.

“Divulgarei minhas declarações de renda, mesmo contra o desejo do meu advogado, quando ela divulgar seus 33 mil emails que apagou”.

“Não acredito que vá divulgar suas declarações de renda porque há algo que está escondendo”, rebateu Clinton, acrescentando que o eleitor precisa saber se “você deve a alguém” quando chega à Casa Branca.

Clinton acusou Trump de ter baseado sua carreira política na “mentira racista” de que o presidente Barack Obama não nasceu nos Estados Unidos.

Trump “realmente começou sua carreira política sobre a mentira racista de que nosso primeiro presidente negro não é um cidadão americano”.

O republicano atirou contra a ex-secretária de Estado afirmando de Hillary gerou um “caos completo” no Oriente Médio.

“O Oriente Médio se tornou um caos total, em grande medida durante sua direção” no departamento de Estado”, afirmou Trump.

“Você fala em derrotar o Estado Islâmico, mas estava lá, era secretária de Estado, quando ainda eram pequenos. Agora estão em mais de 30 países e você fala em detê-los?! Não acredito”.

“Ao menos eu tenho um plano para lutar contra o Estado Islâmico”, rebateu Clinton.

Prosseguindo na área de política externa, Trump declarou: “Quero ajudar todos os nossos aliados, mas estamos perdendo bilhões de dólares. Não podemos ser a polícia do mundo, não podemos proteger todos os países do mundo”.

Trump advertiu que Hillary Clinton carece da força necessária para ser presidente dos Estados Unidos. “Ela não tem a energia (…) para presidir este país, isto exige uma energia fenomenal”.

“Quando você viajar por 112 países e negociar um acordo de paz, um cessar-fogo, a libertação de dissidentes (…) ou passar 11 horas depondo em uma comissão do Congresso, aí sim poderá me falar de energia”, respondeu Clinton.

A democrata advertiu que “um homem que pode ser provocado com uma mensagem no Twitter não pode ter acesso aos códigos nucleares” para lançar mísseis intercontinentais.

Vitória por pontos

Para Michael Heaney, da Universidade de Michigan, Clinton teve um desempenho “excelente” e se mostrou “concentrada”, mas Trump “registrou um debate muito melhor do que se esperava”.

Steffen Schmidt, da Universidade de Iowa, Clinton foi melhor, mas ambos tiveram bons momentos. Trump “não explodiu em pedaços e agiu de forma muito mais ‘presidencial’ do que se esperava”.

Timothy Hagle, também professor da Universidade de Iowa, “em geral nenhum dos dois cometeu grandes erros”.

Para os três especialistas, Clinton teve melhor desempenho, mas esta superioridade não foi clara ou indiscutível.

Heaney avaliou que “não houve nocaute”. “Se houve um vencedor, podemos dizer que foi uma vitória por pontos”.

Rejeição recorde

Hillary, 68 anos, e Trump, 70, são os candidatos com o maior índice de rejeição registrado até o momento entre indicados dos dois principais partidos dos EUA, e também travam uma disputa apertada nas pesquisas.

A pesquisa da Universidade Quinnipiac divulgada nesta segunda-feira concede a Hillary 44% de apoio e a Trump 43%, um resultado “muito apertado” que constitui um empate virtual, segundo os responsáveis por esta análise.

Embora os resultados das pesquisas tenham variado amplamente nos últimos dois meses, é certo que no início da campanha Hillary tinha uma enorme vantagem de dois dígitos sobre Trump, e apesar dos espetaculares gastos de campanha esta superioridade desapareceu.

O debate foi o primeiro de três, que acontecerão em um período de três semanas, e serão organizados por temas: a direção em que os Estados Unidos avançam, a prosperidade e a segurança.