Isaquias Queiroz

Desde a primeira participação brasileira em Olimpíadas, na cidade de Antuérpia, em 1920, aproximadamente 2 mil atletas representaram o País  no maior evento esportivo do planeta. Entre eles, apenas um conquistou três medalhas em uma única edição olímpica: o baiano Isaquias Queiroz. A perspectiva histórica traduz o tamanho do feito do canoísta, prata nas categorias C1 1.000 m e C2 1.000 m, nesta última em parceira com Erlon de Souza, e bronze na C1 200m, nas águas da Lagoa Rodrigo de Freitas, durante a extraordinária Rio-2016. “Eu queria ter ganho o ouro também”, diz um sempre insatisfeito Isaquias, que nunca se contenta com o segundo lugar. “Tudo bem, vou ser campeão olímpico em 2020.” Com os três pódios no Rio, ele se tornou, aos 22 anos, um nome para ser reverenciado. Eleito pela ISTOÉ o “Brasileiro do Ano no Esporte”, Isaquias caminha — na verdade, rema — para se tornar uma lenda nacional. “Quantas medalhas eu posso ganhar? Quem sabe mais quatro, em duas Olimpíadas”, diz, imodesto.

Isaquias nasceu em Ubaitaba, cidade de 22 mil habitantes na Bahia. Ubá, em tupi-guarani, significa “canoa pequena”. Foi em cima delas, desafiando o Rio das Contas, que o garoto cresceu. A jornada não poderia ter sido mais difícil. Aos 5 anos, ele perdeu o pai, vítima de derrame. Aos 6, foi sequestrado por uma mulher, que se impressionou com a energia do garoto. Aos 7, ficou um mês internado depois de sofrer queimaduras com água quente. Aos 10, quase morreu. O menino estava trepado em uma árvore quando perdeu o equilíbrio e caiu sobre uma pedra. De tão severas, as lesões lhe custaram um rim. Nesse tempo todo, viu a mãe, Dilma Queiroz, dar duro como servente da rodoviária local.

O destino mudou graças à canoagem.  Descoberto por Jefferson Lacerda, ex-atleta olímpico que o tirou do trabalho de carregador de sacolas na feira oferecendo w um patrocínio de R$ 50 mensais, Isaquias não surgiu no alto rendimento de uma hora para outra. Ele integra missões do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) desde os Jogos da Juventude de 2010. No ano seguinte, aos 17 anos, ganhou duas medalhas no Mundial Júnior. Em 2012, foi a Londres como parte do projeto “Vivência Olímpica”, já pensando no que poderia fazer em 2016. Depois disso, estabeleceu a meta improvável de subir três vezes ao pódio no Rio. Improvável mas, como se viu, não impossível.

Nos Jogos de Tóquio, em 2020, o feito não deve se repetir. Recentemente, a Federação Internacional de Canoagem recomendou um novo programa de provas para a Olimpíada com o objetivo de incluir a canoa feminina e igualar o número de disputas de homens e mulheres. A proposta eliminaria o C1 200 m, prova em que Isaquias foi bronze no Rio. Mesmo se a proposta da Federação vingar, este baiano de sangue quente e espírito vencedor já terá escrito um dos capítulos mais surpreendentes da história do esporte brasileiro.

“Quantas medalhas eu posso ganhar? Quem sabe mais quatro, em duas Olimpíadas”