A primeira reivindicação direta do grupo radical Estado Islâmico (EI) de um atentado em solo turco após o massacre em uma discoteca de Istambul faz temer uma escalada de ataques na Turquia, transformada em um dos principais alvos dos extremistas islâmicos.

O EI e Ancara se enfrentam desde que a Turquia se somou à coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos e lançou uma ofensiva terrestre no norte da Síria contra os extremistas e milícias curdas.

Após o atentado na boate Reina, que deixou 39 mortos e dezenas de feridos no Ano Novo, o governo turco informou que manterá “suas operações, enquanto as organizações terroristas representarem uma ameaça”.

Antes deste massacre, cujo autor é procurado intensamente, o EI não tinha reivindicado diretamente atentados no país, exceto assassinatos de ativistas sírios. Mas Ancara tinha atribuído ao grupo vários ataques contra alvos turísticos.

A operação turca na Síria mudou a posição do EI com relação à Turquia, explicou à AFP Sinan Ülgen, presidente do Center for Economics and Foreign Policy (EDAM) e professor convidado na Carnegie Europa.

“O EI decidiu atacar ostensivamente a Turquia”, disse. “Todas as etapas foram superadas, a batalha começou. Não há motivos para que o EI não assuma a responsabilidade por este atentado”, resumiu.

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Em um comunicado nas redes sociais, o EI indicou que “um dos soldados do califado” atacou a discoteca, enquanto o exército turco se lançou há semanas em combates sangrentos em Al Bab, reduto do EI no norte da Síria.

Ancara ‘principal inimigo’ do EI

Este dia, o estado-maior anunciou que 18 “terroristas do Daesh” (acrônimo e, árabe do EI) morreram em combates e bombardeios em Al Bab na segunda-feira.

Enquanto está “sob pressão na Síria”, explica Ülgen, o EI quer “demonstrar que tem a possibilidade de funcionar e orquestrar atentados fora das fronteiras”.

O primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, afirmou que seu país continuará “lutando contra o terrorismo onde quer que seja”.

No começo do conflito sírio, a Turquia foi acusada por seus aliados ocidentais de ignorar a ameaça do EI, inclusive de apoiá-lo em sua luta contra o presidente (sírio) Bashar al Assad. Acusações que Ancara rechaçou.

Desde que intervém na Síria, a Turquia é frequentemente ameaçada pelo EI e o presidente Recep Tayyip Erdogan aparece em imagens de propaganda dos extremistas.

Em destaque especialmente um vídeo difundido no mês passado em que dois supostos soldados turcos eram queimados vivos pelo EI. Ancara confirmou que três de seus militares são prisioneiros do grupo, mas não há elementos para autenticar as imagens.

No último número de sua revista Dabiq, em agosto, o EI apontava a Turquia como seu “principal inimigo”, segundo Charlie Winter, cientista do Centro Internacional de Estudos da Radicalização e da Violência Política do King’s College de Londres.

‘Golpe ao turismo’

O atentado de Istambul foi reivindicado pela agência central do EI e não por seu órgão de propaganda Amaq, geralmente encarregado de fazê-lo.


Algo inédito para Winter, para quem se trata “de fazê-lo passar por algo que foi dirigido sem ambiguidades pelo comando central, mais que um ato de apoio do EI”.

Segundo especialistas, ao atacar uma boate da moda, frequentada pela elite laica, o EI quer demonstrar que explora as fragilidades da Turquia.

“Certamente é o desejo de arraigar ou utilizar a divisão social existentes na Turquia”, explicou Ülgen. “Uma das principais brechas na Turquia é a existente entre laicos e islamitas”.

“O objetivo do atentado também é atingir o turismo, que já tinha sido afetado pelo cometido no ano passado. Isto lhe dá alcance internacional”, explicou o acadêmico.


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