A origem de músicas e danças brasileiras no século 19 está na rua, ainda nesta, palco essencial para trocas de ideias e criações de artistas populares. É dessa história que a mineira Mimulus Cia. de Dança tirou inspiração para criar Do Lado Esquerdo de Quem Sobe, que estará até nesta sexta-feira, 24, às 21h, no Sesc Pinheiros.

O coreógrafo Jomar Mesquita desenvolveu a obra em 2006. Naquele ano, foi apresentada na Bienal da Dança de Lyon, na França. Em 2007, esteve na edição de 75 anos do Jacob’s Pillow Dance Festival, nos Estados Unidos. Há algum tempo sem dançar o trabalho, o grupo decidiu remontá-lo no ano passado, quando também passou por cidades francesas.

Virtuosismo e romantismo se unem para celebrar expressões culturais que nasceram após a abolição da escravatura, quando negros tentavam se inserir em uma sociedade urbana segregadora e agarrada a tradições europeias. É dessa mistura que surgem o choro, o samba, o maxixe. “Apesar de ser inspirado nesse período, não é um espetáculo de época”, diz Mesquita. “Digo que é para todos os gostos. Para quem gosta de samba, de Brasil. Mas não é um Brasil com cara para turistas. É um Brasil contemporâneo.”

A trilha é quase toda instrumental, composta ou executada por Yamandú Costa. A exceção é Rosa, de Pixinguinha, gravada à capela por João Baptista Mesquita, pai de Jomar. Em 2004, Yamandú havia lançado com Paulo Moura o álbum El Negro del Blanco, que revela a miscigenação nas músicas populares da América Latina. “Esse CD é de uma riqueza maravilhosa. Pegamos muitas músicas dele, mas também outras composições”, conta o coreógrafo.

Esse encontro entre as diferentes culturas também aparece nos figurinos e no cenário, inspirado nas calçadas portuguesas. “São compostas por pedras pretas e brancas que, coincidência ou não, juntam o negro e o branco. Elas surgem nesse mesmo período e estão espalhadas pelo País.”

E, se tudo acontece nas ruas, uma delas está especialmente ligada à obra. Na Rua Ituiutaba, em Belo Horizonte, fica a escola de dança de salão criada pelos pais de Mesquita há 27 anos e que deu origem à companhia profissional em 2000.

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“A gente está sempre com a porta aberta. As pessoas que passam na rua, às vezes, param, olham o ensaio. Algumas se animam a entrar. É uma relação muito próxima e que nos lembra o que ocorria na época em que o samba, o maxixe e o choro surgiram e eram tocados e dançados nos passeios, sob os alpendres, nos quintais, nas portas das casas”, diz Mesquita. “O título vem desse nosso lugar na cidade. Quando a gente vai explicar onde a Mimulus está, fala: ‘Você pega a Rua Ituiutaba, continuação da Augusto de Lima, e nós estamos ali do lado esquerdo de quem sobe. Outro significado mais metafórico, poético, no lado esquerdo de quem sobe o corpo está o coração.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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