O Senado tem moral para submeter Dilma Rousseff a julgamento? A pergunta, feita pela senadora Gleisi Hoffmann, provocou gritos e queixas nesta sexta-feira, no segundo dia do julgamento de impeachment contra a presidente.

“Tem que respeitar nossa posição”, afirmou o líder do Senado, Renan Calheiros, em meio a um clima de alta tensão que provocou duas suspensões das sessões, nas quais a defesa deve apresentar seus argumentos a favor da presidente de 68 anos.

O senado se tornou um “hospício!”, disse Calheiros, do PMDB.

Seus ataques estavam dirigidos contra a senadora Gleisi Hoffmann, do PT e uma das maiores defensoras de Dilma, afastada de seu cargo em maio.

“Este julgamento é uma farsa”, disse Hoffmann nesta sexta-feira. Um dia antes, foi mais letal: “Qual a moral desse Senado para julgar a presidenta da República?”, perguntou.

Os debates no Senado são apenas um reflexo da profunda polarização política no Brasil, marcada por um gigantesco escândalo de corrupção que atinge todas as fileiras, tanto de esquerda quanto de direita.

Tudo em um contexto amargo: o Brasil atravessa a pior recessão em décadas e também é atingido por uma inflação de mais de 10%, um desemprego que afeta 11 milhões de pessoas e um déficit de 45 bilhões de dólares.

Dos 81 senadores que decidem o futuro político de Dilma, mais da metade tem casos pendentes ou são investigados por corrupção, incluindo Calheiros, que tem vários casos nos tribunais, e Hoffmann.

Final cantado

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, pediu aos senadores que deixem de lado suas posições ideológicas e partidárias, mas constantemente precisa colocar ordem nos debates.

As pesquisas e os analistas concordam que a tendência é praticamente irreversível em favor da destituição da presidente, suspensa em maio.

Dilma, a primeira presidente do país, eleita em 2010, é acusada de manipular dados para ocultar a verdadeira situação das contas públicas de seu governo, e emitir por decreto linhas de crédito extraordinárias sem o aval do Congresso.

A presidente insiste que é inocente e denuncia ser vítima de um “golpe de Estado” orquestrado por Temer.

“À medida que o processo avança, fica cada vez mais claro que a presidente cometeu crimes”, indicou Cassio Cunha Lima, do PSDB.

Para que a presidente seja despojada de seu mandato, é necessária uma maioria especial de 54 votos (dois terços) de um plenário de 81 senadores.

Se Dilma for destituída, colocará fim a mais de 13 anos de governos do PT, abalado por revelações de grandes escândalos de corrupção, incluindo a mega fraude da Petrobras.

E Michel Temer, vice-presidente de Dilma por cinco anos e agora seu arqui-inimigo, completaria seu mandato até 2018.

O Senado planeja ouvir nesta sexta-feira as seis testemunhas de Dilma, entre elas o ex-ministro da Economia Nelson Barbosa. E, diante do andamento da situação, os debates continuarão até sábado.

Segunda-feira, dia de Dilma

Dilma se defenderá na segunda-feira, possivelmente acompanhada de seu antecessor e mentor político, Luiz Inácio Lula da Silva.

Deverá falar entre 30 e 60 minutos, segundo analistas, com um discurso mais dirigido à nação, e não aos senadores, que já têm uma opinião formada e que também poderão interrogá-la.

Depois serão realizadas as deliberações, que devem se prolongar até terça-feira, para iniciar a votação.

Caso seja condenada, Dilma, que militou em uma guerrilha marxista durante a ditadura (1964-1985), ficará inabilitada para ocupar cargos públicos por oito anos.

Isolada desde sua suspensão em uma espécie de exílio no Palácio da Alvorada, Dilma pediu para “manter viva a esperança”.

Desde que assumiu o governo, com o aval dos mercados, Temer disse que encaminhar a economia é uma prioridade e que não hesitará em tomar medidas, inclusive impopulares, entre elas um ajuste fiscal.

Uma tarefa árdua, se for levado em conta que tem uma popularidade de apenas 13% e não possui a legitimidade das urnas.

Segundo meios de comunicação, Temer aposta que o julgamento terminará antes de sua viagem à China, na próxima quarta-feira, para participar da reunião do G20, onde quer chegar sem o título de interino.