Representantes do governo Sérgio Cabral Filho (PMDB) comunicavam antes das licitações de grandes obras públicas no Rio qual seria a participação de cada empreiteira nas construções, revelou o executivo Alberto Quintaes, da Andrade Gutierrez, nesta quarta-feira, 15. A prática é ilegal, mas as empresas não tinham alternativa, de acordo com o superintendente da Andrade. As empresas pagaram mesada e porcentual sobre os contratos ao grupo chefiado pelo peemedebista, segundo delatores.

“Era aceitar ou não. Já vinha tudo acertado, como a porcentagem de participação de cada empresa do consórcio”, disse o executivo. “A gente não discutia. Era uma coisa imposta. A gente só dizia se iria participar: sim ou não”, completou.

A declaração foi feita durante depoimento à 7ª Vara Federal Criminal no Rio. O executivo também contou que as reuniões com as empresas que participariam das obras eram individuais. “Depois, todas se reuniram, estudavam planilhas, o que cada uma iria fazer e acertávamos o edital, já para ir para a concorrência”, disse o executivo. A licitação, claro, era uma farsa, já que tudo fora acertado antes entre participantes e o Estado.

Questionado pelo procurador Leonardo de Freitas, Quintaes confirmou que o edital técnico era montado com as empresas que participariam do esquema. O objetivo era dificultar que qualquer outra construtora que se candidatasse para concorrer a licitação ganhasse a obra.

Segundo os funcionários da Andrade, em 2007 foi acertado com Cabral que a empresa lhe repassaria R$ 350 mil por mês. A mesada foi fornecida por cerca de um ano, até que a Andrade ganhasse obras do governo estadual e acertasse 5% de propina sobre o valor de cada contrato.

Quintaes contou que o dinheiro da propina era entregue por ele a um operador de Cabral, Carlos Miranda.

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“Todo mês, ele me procurava pessoalmente, e a gente pagava a ele no escritório da Andrade no Rio ou em São Paulo. Acho que teve alguma vez em Minas Gerais. Também teve um pagamento em um escritório no Leblon e algumas vezes na rua”, relatou o empresário.

O superintendente da Andrade também afirmou que não sabia como a empresa produzia o dinheiro da propina. “O financeiro da empresa só me dava a quantia, e eu entregava para Carlos Miranda, que ia lá pegar. Era simples”, declarou.

O executivo disse ainda que teve o conhecimento que pelo menos três obras foram executadas nesse esquema: o PAC das Favelas de Manguinhos, a reforma do Maracanã para os Jogos Pan-Americanos e para a Copa de 2014. A empresa chegou a acertar o esquema para as obras do Arco Metropolitano, mas desistiu.

Quintaes não faz acordo de colaboração com o Ministério Público Federal (MPF). Mas presta depoimentos para a Justiça devido ao acordo de leniência feito com a Andrade Gutierrez, da qual ainda é funcionário.

A reportagem procurou o advogado de Cabral, Luciano Saldanha Coelho, mas não teve resposta.


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