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CLIQUE PARA AUMENTAR (Crédito:MarÌlia Oliveira/Parceiro/Ag. O Globo; Paulo Henrique Pinheiro/MetSul)

As baixas temperaturas registradas nos últimos dias do outono, que assustaram grande parte dos brasileiros, habituados com o inverno ameno do País, mostraram que o Brasil entrou definitivamente na era dos extremos no que diz respeito ao clima. Termômetros negativos bateram recordes e pintaram paisagens com o branco das geadas e o acinzentado dos nevoeiros. O frio acentuado foi sentido nas regiões Sul e Sudeste, mas também pegou de surpresa os moradores das zonas mais próximas da linha do Equador, acostumados com calor o ano todo. A partir de domingo 21, a população deverá enfrentar a chegada oficial do inverno, que promete ser o mais gelado dos últimos tempos. Mas esse é só o começo de um período de mudanças. Nos próximos anos, o Brasil e o restante do planeta serão marcados por picos de temperatura, frutos de alterações climáticas provocadas pelo homem e por fenômenos naturais como o La Niña, dizem especialistas consultados pela ISTOÉ. “O frio que fez agora não acontece sempre”, afirma Celso Oliveira, meteorologista da empresa de consultoria Somar. “Mas a população vai ter que aprender a conviver com ele.”

A cidade de São Paulo (SP) foi uma das mais afetadas pela onda de frio dos últimos dias, com os termômetros marcando os menores valores em décadas. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a madrugada de segunda-feira 13 foi a mais gelada em 22 anos, alcançando 3,5ºC. A aferição do Centro de Gerenciamento de Emergência (CGE) cravou ainda menos: 0ºC na estação da Capela do Socorro, zona sul do município (confira casos históricos no quadro da pág. 46). No Rio de Janeiro (RJ), neste mês de junho as mínimas caíram abaixo dos 10ºC, circunstância rara na cidade cujo epíteto é “40 graus”. O frescor chegou até mesmo ao sul do Amazonas. No Centro Oeste, banhistas nas termas de Rio Quente (GO) aproveitaram o sereno que contrastava com as águas cálidas. “Tivemos três massas de ar frio em sequência”, diz Pedro Nazareno Ferreira da Costa, meteorologista do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos, ligado ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (CPTec/Inpe). “Por causa disso, houve um acúmulo nesse período, uma frequência que não é muito típica.” Para Anna Bárbara Coutinho de Melo, meteorologista do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), não há, por enquanto, motivos para a população se assustar. “É um padrão normal para o período, apesar de mais prolongado e intensificado.”

ESPETÁCULO Segunda-feira 13: Cachoeira congelada em Urupema. Mesmo no Rio, termômetros marcaram menos de 100C
ESPETÁCULO Segunda-feira 13: Cachoeira congelada em Urupema. Mesmo no Rio, termômetros marcaram menos de 100C (Crédito:MarÌlia Oliveira/Parceiro/Ag. O Globo; Márcia Foletto/Ag. O Globo)

Daqui para frente, o esperado é que a situação se agrave no curto, médio e longo prazos. O inverno que começa deverá ser o mais intenso dos últimos anos, pois os anteriores foram marcados pela influência do fenômeno El Niño. Ele aumenta a temperatura das águas do oceano Pacífico e dos termômetros no Brasil. Com o fim do El Niño, nos próximos meses o estado dos mares permanecerá em neutralidade, o que significa mais massas de ar frio chegando ao centro-sul do País e a consequente diminuição das temperaturas (veja quadro na pág. 47). A partir do fim de 2016, a conjuntura se inverterá. O Pacífico vai esfriar, o que é conhecido pelo nome de La Niña. Isso pode manter os termômetros em queda durante os invernos de 2017 e 2018. Daí para frente, a situação pode variar bastante, mas as mudanças climáticas (em boa parte provocadas pelo ser humano) ajudarão a criar um descontrole no tempo que favorecerá os extremos, quentes e frios. Em Nova York, nos Estados Unidos, por exemplo, milhares de crianças e turistas se decepcionaram muito no natal do ano passado, quando não nevou em Manhattan. Além disso, as alterações ajudarão na formação de eventos naturais, como o tornado que destroçou diversas casas e construções em Campinas (SP) no domingo 5. “As mudanças de tempo proporcionam fortalecimento dos eventos naturais. Os tempos quentes ficam mais quentes e, os frios, mais frios”, afirma Alexandre Nascimento, meteorologista da empresa de previsão Climatempo. “Em todo o globo, teremos que conviver com esses limites climáticos”, diz Oliveira.

DESTRUIÇÃO Domingo 5: Tornado destruiu casas no interior paulista, em Jarinú (foto) e Campinas
DESTRUIÇÃO Domingo 5: Tornado destruiu casas no interior paulista, em Jarinú (foto) e Campinas (Crédito:Mauricio Bento/ Brazil Photo Press/Folhapress )

Os povos de outros países podem até estar mais acostumados com o frio, por contarem com roupas pesadas para invernos rigorosos e sistemas mais eficientes de calefação, por exemplo. Mas o brasileiro está buscando se habituar às condições mais intensas. No inesperadamente gélido outono, as tentativas começaram com multidões correndo para as compras. Em grandes lojas de departamento e de construção consultadas pela reportagem, já não havia mais aquecedores portáteis disponíveis, nem em estoque. Nas ruas de comércio popular na capital paulista, ambulantes lucravam com a venda de centenas de luvas, gorros e cachecóis num só dia. Para além do básico, cidadãos acostumados ao clima tropical estão aprendendo também com novas tecnologias. Um aquecedor de barro experimental, movido a velas, viralizou nas redes sociais na semana passada. O índice do volume de buscas (a métrica usada pelo Google) do aparelho pulou de 7 para 100. Enquanto isso, cada vez mais pessoas adquirem as segundas peles, finos colãs térmicos que esquentam o corpo debaixo das vestimentas comuns, sem a necessidade de múltiplas sobreposições de peças e casacos. “Quem tem condição deve comprar porque vai usar”, afirma Nascimento, do Climatempo. “E estou falando tanto do aquecedor quanto do ar condicionado.”

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